julho 2016

domingo, 10 de julho de 2016

'Portugal vai ganhar'


Nos momentos difíceis, os heróis e seus atos heroicos (ou supostamente heroicos) são lembrados para que possam servir de inspiração. Que o digam os franceses, que resistiram à pressão inglesa na Guerra dos Cem Anos em parte por inspiração do suposto heroísmo de Joana D'Arc. Incentivados pelo martírio de Joana em 1431, os franceses bateram os ingleses em Formingny (1450). Três anos depois, capturaram a cidade Bordeaux, último reduto inglês, na batalha de Castillon, que encerrou a guerra.

Que o digam também os portugueses, que bateram os franceses neste domingo na final da Eurocopa.

Aos 8 minutos do primeiro tempo, Cristiano Ronaldo levou entrada dura de Payet. Jogo parado, o português sentia fortes dores no joelho esquerdo. Foi atendido pelos médicos fora do gramado e voltou mesmo assim. Provavelmente era só um susto.

Ou não? Ronaldo parecia mancar em campo e não conseguia correr. A todo instante colocava a mão no joelho, claro sinal de dor.

Aos 18 minutos, 10 minutos depois da primeira lesão, caiu de novo no chão. Teve o joelho imobilizado pelos médicos. Tentaram de tudo, mas parece não ter adiantado. Era o momento pra sair do campo de vez.

Não! Cristiano Ronaldo voltou ao campo pela segunda vez. Ficou até os 23 minutos, quando se atirou no chão. A Eurocopa acabou pra ele. Ele chorou. Houve quem acusasse frescura.

Quando ele voltou a campo pela segunda vez, pensei com meus botões: "Portugal vai ganhar". Não externei o pensamento nem no Twitter - sádico, torci por pênaltis desde o começo do jogo. Mas era claro para mim que aquele momento seria decisivo para Portugal.

Quaresma entrou no lugar de Cristiano. A comoção tomou conta da torcida dentro e fora do Stade de France - até a seleção da Islândia mostrou compaixão pelo craque português. Ao sair de campo, Cristiano Ronaldo foi aplaudidíssimo pelos portugueses em Saint-Denis. Como se fosse o herói do jogo. E ele foi mesmo do lado de fora do campo.

Não estava na cabeça dos jogadores portugueses naquele momento, mas aposto que a disposição de Ronaldo na final foi uma inspiração para eles. Não apenas pelo "jogar por ele", que geralmente contamina equipes de futebol que passam por isso, mas pelo que significa o jogador que se põe à disposição da equipe mesmo que aparentemente não tenha condições de jogo.

A mensagem é clara: ele se esforçou pelo time, vamos nos esforçar também.

Cristiano ficou no banco o resto do jogo. Incentivou o time como pode. Éder, autor do gol português já no segundo tempo da prorrogação, contou que Cristiano lhe disse que faria o gol da vitória. Há quem suponha que ele não disse isso apenas para Éder, mas dá pra culpá-lo por tentar incentivar o time?

No final da vitória por 1x0, foi ele, Cristiano Ronaldo, quem levantou, com sorriso de orelha a orelha, o título da Eurocopa. Título vencido numa final contra os donos da casa que, em três oportunidades, poderiam ter mudado a história. A bola, no entanto, premiou o empenho português, time superior na partida e campeão com méritos a despeito de ter vencido apenas uma partida no tempo regulamentar em todo o campeonato - contra Gales, na semifinal.

O empenho que começou a se encontrar ali aos 8 minutos do primeiro tempo, quando Payet tentou apagar Cristiano Ronaldo do jogo, mas deu de presente aos portugueses o herói do jogo. O herói que o foi sem ter jogado mais do que 23 minutos, mas servindo de inspiração para os portugueses que hoje comemoram o título inédito.

Inspiração... Quem sabe não é isso que o Brasil precisa agora?