Entre o racional e o irracional

quarta-feira, 15 de junho de 2016

Entre o racional e o irracional


Nós, torcedores de futebol, somos extremamente irracionais. Primeiro porque nós gostamos de ganhar mais do que nós gostamos do futebol como esporte. Acho que falei sobre isso, de forma crítica, aqui neste blog. Mas eu esqueço de dizer que eu também fico irritado quando o Corinthians perde, ou quando a seleção, essa máquina de fazer dinheiro aos cartolas da CBF, sofre uma das constantes humilhações pós-7x1.

Depois porque, já que gostamos tanto de ganhar, somos extremamente impacientes quando nosso time vai mal. E foi por isso que meu irmão pediu tanto #ForaTite no Corinthians nessa semana em que o time perdeu do Palmeiras. Eu fiquei realmente irritado. Mas como é teimoso esse Tite que não mexe no time e ainda me põe o André Balada no ataque! É aquela forma antiquada de pensar o futebol que eu também já combati aqui neste blog. Eu também pensei várias vezes dessa forma, pensei dessa forma na vitória do Palmeiras domingo. Sem saber que ia demorar tão pouco para ficarmos sem Tite no Corinthians.

Mas torcedores de futebol são assim mesmo, irracionais, contraditórios. Como os jornalistas que apostavam no fiasco do São Paulo em janeiro e agora o veem como favorito a ganhar a Libertadores. Pela ótica da razão, os trabalhos de Tite no Corinthians são excepcionais, especialmente depois de 2011: 2 brasileiros, uma libertadores, um mundial (é sacanagem dizer, mas Tite tem mais mundiais que o Palmeiras).

Ainda assim, derrotas fazem com que um trabalho pareça terrível. E fazem com que um treinador pareça ruim. Houve uma época em que o Corinthians demitia treinador no primeiro sinal de crise. E a torcida muitas vezes aplaudia. Foi nessa época que o Corinthians caiu pra Série B.

Em 2010, Mano Menezes era o grande herói corintiano e Dunga (olha aí) o grande vilão. Quando o segundo saiu da seleção, o primeiro saiu do Corinthians. Após um período sob o comando de Adilson Batista, o Corinthians foi atrás de Tite. Era ele quem estava lá quando o Corinthians saiu na Pré-Libertadores contra o Tolima.

Naquele momento, eu também fui #ForaTite.

Mas aquele momento definiu a vida do time que seria campeão do Brasil, da América, do Mundo.

Sempre que eu me lembro daquele momento, eu imagino que talvez Tite estivesse preparando a virada para o Corinthians. Não seria a primeira vez, nem seria a última. O encontro da racionalidade de lembrar do ótimo trabalho de Tite com a irracionalidade de achar que, estando ele ali, o trabalho pode se repetir.

Se eu estava certo ou não, jamais saberemos.

Nesse meio tempo, Tite e Corinthians quase que se tornaram um só. Nenhum técnico corintiano teve, na última década - na história, talvez apenas Osvaldo Brandão tenha tido mais - afinidade com a torcida, com quem ele assistiu, entre o técnico racional e o torcedor irracional que nele convivem, a vitória do Corinthians sobre o Vasco nas quartas de final da Libertadores em 2012 (Mauro Beting considera esse o momento mais corintiano de Tite e o mais decisivo do Corinthians naquele torneio).

Não é de se surpreender que Tite tenha recebido da torcida corintiana um carinho tão grande. E não é à toa que a torcida se despede de forma tão calorosa agora que ele deixa o clube não por maus resultados, mas para comandar a seleção brasileira. É mais um louco do bando, que pela segunda vez vai sair literalmente para o mundo, só que dessa vez representando uma seleção que joga mal e tem cada vez menos representatividade numa torcida que, irracional, está de saco cheio de humilhações.

Vai apanhar da mídia, vai ser cobrado, vai ser esquecido por tudo que fez pelo Corinthians e dificilmente vai ganhar o hexa - ao menos em 2018. Ainda assim, olho pelo racional e penso que fará um excelente trabalho, dentro das possibilidades dadas por uma CBF incompetente presidida por um sujeito que não sai do Brasil pra não ser preso.

Mas eu gostaria de, meio racional e meio irracional, me juntar ao coro dos corintianos que hoje se juntaram pra dizer #ObrigadoTite. Pelos títulos, pelo ótimo trabalho, por ser o melhor treinador do Brasil aqui no Corinthians. E pela esperança que tenho ao lembrar da derrota para o Tolima seguida um ano depois pelo título inédito da Libertadores. Esperança que me acompanha agora que o desafio é na seleção apática pós-Dunga. E da qual eu gostaria que compartilhassem todos os corintianos, palmeirenses, são-paulinos, santistas, flamenguistas, tricolores, botafoguenses, vascaínos, atleticanos, cruzeirenses, gremistas e colorados neste momento difícil para o nosso futebol.

Porque como mais um louco do bando, aprendi que na hora H não há nada mais racional do que ser irracional e dizer, quando ninguém mais acredita: eu nunca vou te abandonar.

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