fevereiro 2016

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

Por que a NFL não é isso tudo que você está pensando


Não se preocupem que eu não tenho nada contra modinhas - o autor destas linhas gosta da Taylor Swift -, mas será que eu deveria seguir o conselho de gostar do que as outras pessoas gostam?

Alexandre Cossenza, no Esporte Final, disse isso claramente em seu post com motivos pelos quais o futebol americano cresce no Brasil:

"E se depois de ler isso tudo você, leitor, ainda acha que futebol americano é modinha ou coisa de “paga-pau de gringo”, o melhor a fazer é sair das redes sociais nas noites de quinta, domingo e segunda quando a próxima temporada começar. Mas quem sabe não chegou a hora de tentar ver umas partidas, escolher um time e ser feliz junto com essa turma de fanáticos que não para de crescer?"

Eu acho o futebol americano chato. Já tentei assistir ano passado, quando fui levado pela Katy Perry a ver o que ela preparava para o intervalo do Super Bowl. É difícil de entender, para toda hora, é cheio de intervalos e nem questiono aqui a duração de um jogo, pois as prorrogações podem fazer o outro futebol, o inglês, demorar três horas também, mas que é frustrante ver aquilo por tanto tempo... Pra mim é.

Então não, eu não entendo o que as pessoas enxergam nesse esporte. Ou melhor, tenho medo de entender. Mas se você acha que o futebol americano é melhor que o outro, o inglês, e que eu deveria ficar quieto sobre o assunto, então vou fazer como no post do Cossenza e explicar as razões pelas quais esse esporte não é o que você está pensando:

Não é tão bonito quanto você acha
No dia do Super Bowl, a Newsweek publicou em seu site um artigo intitulado "Você está 100% errado a respeito do futebol [americano]". Ali, Elijah Wolfson explica mais ou menos o que é o futebol americano:

"O futebol americano é uma mistura exagerada de regras, rituais e racionalizações para conter muito mal o caos. (...) Não tem regras de verdade: há um majoritariamente ambíguo conjunto de diretrizes aberto às interpretações volúveis de alguns homens de meia-idade. (...) Já comecei a mudar para esportes que não são exercícios intermináveis em um capricho melancólico".

Outros esportes, menos caóticos, pegam mais facilmente fora dos Estados Unidos - e até nos territórios do próprio, como o basquete da NBA, que já é um dos esportes mais populares do grande país do norte.

Não é tão surpreendente quanto você acha
O Denver Broncos de Peyton Manning foi o grande vencedor do Super Bowl 50, a final de jogo único da NFL. Mesmo sem gostar e acompanhar o esporte, o autor destas linhas ouviu tanto o nome do quarterback (sério, o futebol americano tem muitos adeptos no Brasil mas não traduziu o nome das posições?) que previu que isso iria acontecer.

Ainda que o outro futebol tenha seus MSN e BBC, ele nos surpreende muito mais facilmente e é menos premeditado (Chile campeão da Copa América contra a Argentina de Messi, após o 6x1 aplicado no Paraguai?).

É feito pra TV
Elogiar as transmissões da ESPN como ponto alto do esporte é totalmente válido - afinal, o interesse pelo esporte diminui muito quando se desliga a TV.

O Brasil teve um crescimento estrondoso na prática do futebol americano desde que criou seu primeiro campeonato oficial, em 2009. Mas mesmo com esse súbito interesse, o número de equipes que praticam futebol americano no Brasil está em proporção menor que o da Espanha (4x mais população, 3x mais equipes), onde a NFL repercute menos. Em 2015, a seleção brasileira precisou fazer vaquinha pra financiar uma viagem ao Panamá.

E cá entre nós, nos EUA é comum, mas quantos brasileiros jogam futebol americano de forma recreativa? Há mais jogadores de sinuca. Com o basquete foi diferente: muita gente que assistia arriscava uns arremessos de vez em quando. Foi assim comigo, nos tempos em que eu era fã do esporte.

Fora da TV, o futebol americano perde muita importância. O desfecho disso tudo pode ser o mesmo do UFC.

Cresceu no Brasil, só no Brasil
O futebol americano só faz crescer no Brasil. Ponto pro ótimo marketing feito pela ESPN ao longo dos anos em que perdeu eventos importantes para SporTV e Fox no outro futebol. Fora do Brasil, essas coisas não estão colando tanto.

Das versões latino-americanas da ESPN, apenas duas, a brasileira e a pan-regional, dão destaque à NFL em seus sites. Na Argentina é futebol do começo ao fim. Na Venezuela, algum destaque a algumas ligas americanas, mas não à NFL. No Chile é futebol do começo ao fim.

O interesse só cresce quando chega o Super Bowl - foi só aí que o espanhol El Pais arriscou fazer alguma cobertura do esporte.

Nos EUA, a terra em que esse esporte dá mais audiência, a NFL perde influência entre os Millenials: o interesse dos adolescentes americanos na NFL caiu de 26% para 19% nas últimas duas décadas. 61% deles identifica a liga como uma instituição "desprezível" (tipo a CBF?). Muitos Millenials preferem os outros esportes americanos (basquete, beisebol, hóquei no gelo e Stock Car) à NFL.

O futebol continua a ser o futebol
Muita gente achou que o São Paulo ia ao menos empatar o jogo de domingo, com um Corinthians "retrancado" tomando pressão do esquema que Bauza fez pra jogar o Tricolor pra cima do Timão no segundo tempo. Mais eis que o Corinthians ganha um escanteio. Bola cruzada na área (morte ao escanteio curto!), a zaga tira, mas Yago joga de cabeça num canto que nem dois Denis conseguiriam defender.

O futebol dos times milionários, dos cartolas corruptos, da TV que escolhe horários de jogos, da temporada longa em pontos corridos, continua a ser o futebol, reconhecidamente o mais bonito dos esportes. Pode ser que Brady ou Manning sejam Messis da NFL, mas onde você vai achar, nas divisões inferiores do futebol americano, um lance igual ao gol do Wendell Lira que levou o Puskas?

O futebol existe porque é o futebol, porque as forças do mal que se movem à sua sombra não conseguem destruí-lo. Quem acha que o futebol "inglês" é mais chato que o futebol americano, faz aquilo que acusa de fazerem os que não gostam do futebol americano: nunca viu e não entende.



E se o outro futebol tivesse o mesmo marketing e tino comercial do futebol americano? Ele seria ainda melhor para as TVs e marcas, mas foi sem nada disso que ele se tornou o esporte mais popular do planeta. É o mais popular apenas porque melhor.

***
- Bah! Isso que você tá falando é opinião pessoal. Você não gosta, mas tem um monte de gente que gosta.

Ótimo! Então tudo bem eu não gostar de futebol americano e usar o Twitter em quintas, domingos e segundas à noite nem que seja só pra falar de seriados pra ninguém me ver? Porque eu posso não gostar de NFL e gostar de redes sociais. Ou não gostar do jogo, mas querer ver o show do intervalo de vez em quando. E eu posso dizer, em alto e bom som, sem ofensa pra você que gosta: não sei o que você viu nesse jogo. E você pode me zoar por isso, ou não. Mas com "essa turma de fanáticos", eu jamais seria feliz.

Boas férias de NFL pra você, que seu time mande bem na próxima temporada. Me voy porque hoje tem Corinthians.