janeiro 2015

sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Graça Foster faz gracinha com o balanço da Petrobrás


HAHAHAHAHAHAHAHAHAHA! Como ninguém nunca pensou nesse trocadilho antes?



É isso aí galera! Sou eu de novo! Quem acompanhou as notícias da semana regularmente viu que algo incrível aconteceu, lançaram o Windows 10! Cara, isso é muito mais importante que qualquer coisa que aconteceu por aí.
Você tá achando que o meu destaque era a maquiagem no balanço da Petrobras feita pela Gracinha? Não mesmo, eu só pus isso no título por causa do trocadilho. Como ninguém pensou nele antes? Acho que eu vou registrar.
Dá uma olhada aí no resumo da semana:

Graça Foster se baseia em vídeos da Camila Coelho para fechar o balanço da Petrobras


E a Petrobras vai surpreendendo cada vez mais os brasileiros. Nesta quarta, dia 28/01, a Petrobras divulgou um balanço não auditado tido como "peça de ficção" para muitos investidores.
Pra quem não sabe, o balanço é um documento contábil apresentado pela empresa indicando todos os valores dos ativos (bens, caixa, contas em banco, investimentos, contas a receber etc.), passivos (contas a pagar, impostos, folha de pagamento, fornecedores etc.) e resultado (receitas menos despesas). E a expressão "não auditado" significa que esse balanço não foi analisado por uma empresa de auditoria contábil para saber se os valores contidos nele são reais.
- E por que o balanço não foi auditado?
Simplesmente porque nenhuma auditoria quis assinar dizendo que aqueles valores são reais, nem mesmo a PwC, auditoria que já trabalha com ela.
- E por que nenhuma auditoria quis?
Porque tem uma lei no Brasil que diz que, se uma auditoria assinar um balanço com informações falsas fazendo com que investidores desavisados comprem ações da empresa, caso esses investidores processem a empresa, a auditoria se ferra junto.
- Nossa, mas o que tinha nesse balanço que seria tão pavoroso?
A pergunta certa é o que não tinha nesse balanço. Acontece que a Graça Foster, inspirada em tutoriais de maquiagem da Camila Coelho no YouTube, resolveu maquiar o balanço. Como você sabe, uma das funções da maquiagem é disfarçar imperfeições. E o que a Petrobras fez foi disfarçar uma imperfeiçãozinha de nada, só um esquema de corrupção de mais de uma década.


Tomando como exemplo as refinarias superfaturadas. Em vez de contabilizarem o valor real da refinaria, eles contabilizaram o valor que a Petrobras pagou por essa refinaria. Assim, suponhamos que uma refinaria custe R$ 50 mi, mas, o cara que a vendeu para a Petrobras superfaturou e a vendeu por R$ 200 mi. O correto seria a Petrobras deixar a refinaria custando R$ 50 mi depois de descoberta a sacanagem e contabilizar os R$ 150 mi restantes como despesa, acarretando em prejuízo. Ao invés disso, ela deixou a refinaria valendo R$ 200 mi como se nada tivesse acontecido. Lembrando que esse exemplo foi só uma suposição, os valores não são os reais!
Entendeu? Fora os desvios de verba e as propinas.
Depois de os investidores verem que a Gracinha não aprendeu direito com os videos, ela admitiu ter feito algumas alteraçõezinhas e que SE FOSSE NECESSÁRIO, ela alteraria o balanço. Se fosse necessário? Quem é Foster nunca perde a graça (essa ficou ruim).

Como seria se os Três Patetas dessem uma coletiva?


Nessa sexta, dia 31/01, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e os ministros Aloísio Mercadante, da Casa Civil, e Izabella Teixeira, do Meio Ambiente, deram uma coletiva sobre a crise
hídrica (popular "seca") que assola o estado paulista.

Os Três Patetas, Moe, Larry e Curly... Digo... Alckmin, Mercadante e
Izabella Teixeira. A Izabella tá dormindo porque ninguém perguntava nada pra ela, coitada.

Na entrevista, Alckmin dizia o que a Sabesp já dizia por notas, Mercadante se esquivava das perguntas e a Izabella Teixeira... tava lá.
Quando era perguntado sobre a escassez total da Cantareira, Alckmin dizia que o sistema está a "5% e estável" (como se isso fosse bom) e que São Paulo tem sete sistemas, mas só dois com problemas, a Cantareira e o Alto Tietê. Reconfortante, não?
Quando era perguntado se a falta de água afetaria a distribuição de energia elétrica, Mercadante dizia: "Hoje o assunto a ser tratado é a água" ou "Vamos deixar a energia elétrica com os órgãos competentes". Tá certo ele, afinal, ele é só o ministro-chefe da Casa Civil. Mania que esses repórteres têm de achar que o ministro-chefe da Casa Civil é obrigado a saber de tudo o que acontece no país, viu?
Alckmin disse que "não há nenhuma decisão tomada" sobre o racionamento. "Não há nenhuma decisão tomada, esse é um assunto tecnicamente que a Sabesp está avaliando, monitorando permanentemente. Nós optamos pela válvula redutora de pressão, porque com ela você não zera o sistema e, não zerando o sistema, diminui o risco de contaminação, porque mantém o sistema sob pressão". Pareceu o SMS que eu recebi da Sabesp na semana passada. Será que foi ele quem escreveu?
Quando a Izabella Teixeira foi questionada se o projeto de ligação entre os sistemas Cantareira e Paraíba do Sul tinha licença ambiental, Alckmin, cortando, respondeu que sim, já que ambas as represas que farão a ligação são de São Paulo. Deu a maior dó da Izabella.
E a coletiva terminou do melhor jeito possível, quando uma repórter da Band (eu acho) ia fazer a pergunta, Mercadante a cortou dizendo que tinha "uma reunião com a Dilma" e que estava 10 minutos atrasado. Esse é o Mercadante que a gente conhece!

Segura essa Google Glass!


Nessa quarta, dia 28, a Microsoft anunciou em Redmond, Estados Unidos, o Windows 10. E esse Windows 10 não funciona só no computador, agora ele pode ser usado no Smartphone, tablet e no Xbox. E uma boa notícia, o menu Iniciar voltou! Bom, pra mim isso não faz diferença, mas...

O menu Iniciar do Windows 10 mistura o menu Iniciar das versões mais antigas com
as do Windows 7 em diante.

Mas quem disse que a Microsoft parou por aí? Ela lançou também o Microsoft HoloLens (coisa que precisará mudar de nome se for vendida no Brasil).
É um óculos que reproduz aplicativos e vídeos em hologramas. Daqui a um tempo você vai poder ver o Xvideos na sua frente, só não vai poder tocar na pessoa.


Além disso, a Microsoft lançou a assistente digital Cortana. Um programa com voz de mulher que realiza todos os seus desejos - relacionados ao computador. É só você falar "Hey, Cortana!" que ela te atende.
As mulheres brasileiras andam reclamando da escassez de homem no mercado. E, pelo crescimento do número de nerds, o mercado vai ficar mais escasso ainda quando esse produto vier ao Brasil.
O Windows 10 já está disponível pra download de teste. Eu não vou por o link, se você está interessado, pesquisa!

O triste fim de uma relação duradoura


É amigos, nesta terça, dia 27/01, o YouTube anunciou que não vai mais utilizar o flash player para, finalmente, adotar o HTML5. O YouTube fez essa escolha pois o flash está ficando obsoleto e não oferece tanta segurança, e disse que só não fez isso antes porque o HTML5 tinha um problema de não reproduzir vídeos em outras resoluções. Isso fazia com que pessoas que não tinham uma conexão boa ficassem com o vídeo ma is ou me... nos... as sim.
Porém, depois de muito tempo, o YouTube conseguiu resolver esse problema e disse para a Adobe: "É só isso, não tem mais jeito. Acabou, boa sorte!" Musiquinha chata!





Gostou do resumo? Eu até ia falar do ProUni, mas, eu tenho uma reunião com a Dilma e to 10 minutos atrasado. Até mais!

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quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

A Europa chutou o ajuste. E o Brasil?


O Globo informa que o Banco Central Europeu vai comprar o equivalente a 60 milhões de euros mensais em títulos soberanos para estimular a economia e estancar a crise europeia. Essa quantia vale em torno de 175 milhões de reais. O objetivo do programa seria elevar a inflação para em torno de 2% ao ano - a zona do euro teve deflação de 0,2% em 2014, a primeira em cinco anos.

Mario Draghi, presidente do BCE, disse que "a previsão é que o programa siga até meados de setembro de 2016 e continuará até que vejamos um ajuste sustentado na trajetória da inflação". No economês, chama-se esse tipo de medida de afrouxmento monetário (quantitative easing, ou QE). O mais famoso plano de QE da história foi o do Federal Reserve americano iniciado no fim da década passada para obrigar o mesmo BCE a comprar ativos do mercado. A taxa de juros do BCE está em 0,05%, o menor nível histórico.

Angela Merkel muito provavelmente engoliu o QE do BCE com o prazer de quem tem de engolir um sapo. Na prátia, o BCE está mandando uma banana ao programa de ajuste fiscal por ela defendido como solução para a crise europeia. Como também já lhe mandaram uma banana o presidente americano Barack Obama e a presidente do Federal Reserve Janet Yellen.

As crises nos países centrais sempre foram grandes oportunidades para os países da periferia econômica, como o Brasil. Foi durante a agonia da crise de 2008 que o Brasil cresceu 7%. No entanto, é curioso que em um momento no qual a zona do euro ensaia o abandono dos programas de ajuste, o Brasil inicie os seus próprios ajustes.

"Davos é como as Sereias da Odisseia. Esperto foi Odisseu, que se amarrou às cordas e não se deixou seduzir", comentou Paulo Henrique Amorim em post que fala justamente do BCE. O ministro da Fazenda Joaquim Levy tem promovido ajustes fiscais da forma como faria um ministro de Angela Merkel. Pode-se dizer que os aumentos de impostos recentes, bem como as mudanças nas regras para tomar direitos trabalhistas, têm a assinatura do ministro. E isso parece ser só o começo.

A incerteza alimenta o terrorismo econômico da oposição - que de uma hora pra outra passou do 'aposentados vagabundos" para a defesa intransigente dos direitos sociais e trabalhistas. O terrorismo é ecoado no editorialismo econômico do "quanto pior, melhor".

O Brasil sofre o esgotamento do lulismo. Não que o país precise de uma guinada à direita, mas o lulismo promoveu o investimento público na economia e a valorização do mercado interno em níveis moderados. Nosso país ainda sofre com problemas de má distribuição dos impostos (por que não taxar as grandes fortunas, como sugeriu Thomas Piketty, em vez de aumentar os impostos da classe média?), especulação (financeira, imobiliária e do campo), falta de competitividade, juros altos, entre outras coisas. O governo, em vez de atacar esses problemas, faz questão de ignorá-los e reverter o programa progressista do governo Lula.

É bom não esquecer do que Paul Krugman, um nobel de economia nada esquerdista, escreveu em junho de 2011 sobre a Islândia;

"Enquanto os demais resgataram banqueiros e fizeram o povo pagar o preço, a Islândia deixou que os bancos quebrassem e expandiu sua rede de proteção social. Enquanto os demais ficaram obcecados em aplacar a ânsia dos investidores internacionais a Islândia impôs controles temporários aos movimentos de capitais para abrir um espaço de manobra".

A Islândia, que foi o primeiro país a ser afetado com a crise de 2008, conseguiu sair da crise e retomar o crescimento econômico em 2012. O desemprego chegou a baixar de 10% para 4,8%. A Islândia chegou a ser um país AAA segundo as sereias de Davos. Com a crise, sumiu do noticiário econômico. Sua recuperação não foi notícia e não teve o conhecimento de quase ninguém.

Mas o país não conseguiu sair da crise sem mobilização. Em 2009, o povo lutou para destituir o primeiro-ministro conservador e formar um novo Parlamento. Em 2010, o país vota não em um referendo sobre o acordo do pagamento da dívida, o que pressiona os credores a baixar os juros. No meio da crise, foi aprovada uma nova Constituição para o país.

No Brasil, o cenário é de total desmobilização pós Jornadas de Junho. Depois de fazermos história nas ruas, fomos às urnas eleger o pior Congresso desde 1964. Não custa lembrar que a presidente Dilma está submissa a ele em várias questões econômicas. As únicas manifestações ocorreram para exigir um impeachment que não tem a menor sustentação fora dos círculos reacionários. Além disso, o terrorismo está em alta e o governo está convencido de que precisa recuar na área econômica para entregar bons resultados de curto prazo e ganhar firmeza nos próximos quatro anos.

Diante desse cenário, as expectativas não são nada animadoras. A consciência de que o ajuste leva ao fracasso chegou na Europa, mas vai demorar até alcançar um Brasil que há 25 anos atrás consultava Roberto Marinho para definir o ministro da Fazenda.

terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Escola musical #3 - Pequeno manual de videoclipe


Imagem é tudo. Não se sabe se esse é um pensamento correto, mas é assim que parece se comportar o mundo das celebridades, seja no cinema, na televisão ou na música. Vira e mexe, aparece um cantor querendo mexer na sua imagem, seja pra mudar de público, seja pra se manter na crista da onda.

Agora mesmo estamos assistindo ao estágio final da transformação de Miley Cyrus, até ontem uma estrela Disney, hoje cada vez mais ousada. Miley deseja se livrar de sua imagem de estrela da Disney e buscar um público mais adulto. A mudança de imagem está acontecendo. Quanto ao público, ainda está por provar-se.

Funcionando ou não, "dar uma cara à musica" que ouvimos é um passo fundamental na construção dessa imagem. E nesse caso, nada funciona melhor do que o videoclipe. Não por acaso, Miley fez isso:



E isso:



O videoclipe é tão importante para o artista quanto um disco e um videoclipe no Vevo é tão importante para o artista quanto um disco no iTunes. E se quisermos de fato entender mais sobre a música, precisamos nos debruçar sobre o universo do videoclipe.

videoclipe (s.m.): curta-metragem que ilustra um tema musical ou apresenta o trabalho de um artista.

O termo também pode se referir a curtas publicitários e até esquetes de humor. Nesta aula, vamos conhecer um pouco mais sobre o desenvolvimento do videoclipe musical e aprender a fazer um clipe com base na linguagem usada hoje.

Mas de onde veio o videoclipe? Para entendermos melhor como chegamos até "Wrecking Ball", cabe aqui um pouco de história musical.

I want my MTV!
O videoclipe começa a aparecer no cenário musical nos anos 50, mas seus componentes mais marcantes são usados no audiovisual desde os anos 20. Um exemplo é o filme "O Homem com Uma Câmera", que mostra a rotina na antiga União Soviética. "Jailhouse Rock", de Elvis Presley, é um dos primeiros clipes musicais de que se tem notícia.



Mas foi nos anos 60 que apareceu a primeira banda a produzir videoclipes em série. Sabe quem são?.



Quando os Beatles perceberam que não poderiam se apresentar em todos os lugares em que eram requisitados (a não ser que pudessem estar em 15 lugares ao mesmo tempo), decidiram aplicar uma tática até então inovadora: gravar vários vídeos da banda cantando para que a TV pudesse exibi-los. Os Beatles são considerados os pioneiros do uso do videoclipe.





Nos anos 70 surgiu o videotape, que revolucionou o audiovisual e aproximou mais artistas do uso do videoclipe. Nos anos 80, começou a popularização dos canais a cabo, sem a qual não teríamos conhecido a MTV, o cânone da linguagem do videoclipe.



Na última aula vimos que a MTV transformou para sempre a música pop ao dar uma cara para a música que ouvíamos. Ela foi responsável pelo nascimento de uma nova indústria musical que se mantem desde os anos 80 até hoje. Madonna, Michael Jackson, o hip hop ostentação, as princesinhas pop, as estrelas Disney, as boy bands, os DJs top, tudo passa pela imagem e, por consequência, pela MTV.

Não por acaso, o primeiro clipe exibido pela emissora foi uma espécie de piada interna da indústria musical sobre o futuro: "Video Killed The Radio Star".



Enquanto isso, o Brasil era apresentado ao videoclipe por meio do "Fantástico". Muitos artistas produziram clipes para o programa global, incluindo Legião Urbana, Os Paralamas do Sucesso, Marina Lima, Titãs e Lulu Santos.





A principal diferença entre os clipes do "Fantástico" e os da MTV é estética, mas trataremos do assunto mais adiante. Por ora, vale acrescentar que os clipes do "Fantástico" eram o máximo que as bandas brasileiras conseguiam fazer até os anos 90.

O fato é que a MTV não inventou o videoclipe, mas foi ela que transformou o videoclipe em algo tão importante quanto um disco ou show. Não é por acaso que no comecinho de "Money For Nothing" a banda Dire Straits deixa claro o desejo de vários artistas dos anos 80: "I want my MTV".



O clipe acima foi o primeiro a passar na MTV Europa, que se desmembrou em várias MTVs no continente (o que estranhamente não aconteceu com a MTV Latina). A frase "I want my MTV" virou também uma espécie de slogan da emissora.



Todo mundo queria sua MTV. E o Brasil teve a sua em outubro de 1990.



Os motivos que levaram ao fim dessa MTV seriam abordados numa possível escola televisiva. Aqui se fala de música.

Com o passar dos anos, o videoclipe foi ganhando inúmeros aliados. A MTV começou a enfrentar concorrência em vários lugares, primeiro de outros canais, depois da sempre avassaladora internet, cuja oferta interminável de clipes viabiliza nossas aulas. <3

Com isso, a MTV abandonou o videoclipe. Mas o videoclipe não abandonou a MTV. Calma que mais pra frente eu explico.

Hoje, o videoclipe está na sua fase mais crucial: o YouTube e o Vevo chegaram para arrasar de vez a música na TV. Artistas independentes que não têm acesso à grande mídia fazem a divulgação de suas músicas no YouTube, enquanto os artistas já consolidados batem cada vez mais recordes. A oferta de clipes da Internet vai do pop ao funk, da música mais séria às paródias, do romântico ao cachorreiro, do que você conhece ao que você nunca ouviu falar.

Chega de história, prof! Diz logo pra gente como fazer um clipe!

Calma, a gente chega lá. Antes de tudo, vamos falar um pouco sobre estética e linguagem.

A linguagem MTV
Aos 2:10 do vídeo abaixo, um programa da velha MTV Brasil brinca com essa linguagem.



Basicamente, estamos identificando a linguagem e estética do videoclipe assim porque, como veremos um pouco mais adiante, a MTV é a bíblia dessa estética.

O videoclipe é composto basicamente de música, letra e imagem. É mesmo? Sim, pois é, pois é, pois é... Esses três elementos básicos são manipulados com o objetivo de se integrar e fazer sentido (embora nem todos aparentemente consigam). A forma como esses elementos se constituem inclui ritmo, efeitos especiais, movimentos de câmera, montagem, iconografia, grafismo, etc.

A montagem é feita colocando imagens diferentes filmadas separadamente seguindo um plano sequência único. Tomamos como exemplo "O Último Programa do Mundo", criado por Daniel Furlan e Juliano Enrico.



Repare que o plano sequência dos primeiros cinco minutos vai alternando imagens do estúdio, imagens dos bastidores, uma explosão e imagens de protestos. É um exemplo de montagem clipada.

"O Último Programa do Mundo" não é aquele que foi o último programa da velha MTV?

Muito bem, caro aluno! E é por isso que digo que o videoclipe não saiu da MTV.

A iconografia diz respeito às referências culturais embutidas no videoclipe. Não são poucos os clipes que "parodiam" o cinema, o teatro, a literatura e as artes plásticas. Por fim, há que se destacar o grafismo, que consiste nos elementos gráficos (letras, números, animações, etc) colocados no videoclipe.

A partir dos anos 80, os clipes musicais desenvolveram uma estética própria. Trata-se de uma montagem fragmentada (ver exemplo acima) e de ritmo acelerado. O plano sequência é justaposto e misturado, dando origem a uma narrativa não linear (eu falei que nem todos conseguem aparentemente fazer sentido, não é isso?) visualmente múltipla, rica em referências culturais e dotada de uma forte carga emocional.

Vamos aos exemplos que tudo fica mais fácil: abaixo temos o clipe de "Bizarre Love Triangle", do New Order.



O clipe junta imagens de cenas urbanas (neons, postes, automóveis, pedestres, aeroportos e pontes) com situações irreais (pessoas engravatadas em queda livre). Sobre montagem, basta ver o exemplo anterior e comparar. Há um pouco de grafismo escondido com desenhos computadorizados e há uma referência cultural do cinema. O vídeo não apresenta uma narrativa linear, com começo, meio e fim. E o plano sequência é justaposto e misturado com multiplicidade visual (chega a dar tontura tentar acompanhas as várias imagens que o clipe mostra). Quanto à carga emocional, é só analisar o "objetivo" do vídeo que mistura o irreal com o real e questiona a velocidade da vida.

Essa linguagem se consolidou nos anos 80. A MTV é de 1981. Não é preciso ir muito longe pra ver o que uma coisa tem a ver com a outra. As seleções de clipes da MTV serviram de influência máxima ao que se fez nos anos seguintes. Aliás, não só as seleções de clipes, mas a própria linguagem visual da emissora. Keila Jimenez, colunista da Folha responsável por "matar" a velha MTV, observou que as vinhetas "também eram clipadas". Pois é, no fim das contas aquelas vinhetas sem sentido até que tinham o que dizer.

Hoje, a MTV abandonou o videoclipe, mas a estética do videoclipe continua presente em seus reality shows, vinhetas, premiações e séries, o que faz da MTV a mídia canônica da estética e linguagem do videoclipe.

Aí reside a diferença entre os clipes do "Fantástico" e os da MTV. Os primeiros ainda estão presos a uma referência usada pelas matérias do próprio "Fantástico" e acabam ficando mais simples visualmente do que os segundos. Sem falar na questão dos efeitos especiais.

Mas por que a estética é assim e não que nem as matérias arrastadas da Sônia Abrão? A pesquisadora Juliana Zucolotto acredita que isso tem a ver com o ritmo das culturas urbanas contemporâneas, especialmente nos EUA. Segundo ela, essa linguagem toda tem a ver com a "necessidade de uma representação de fácil e rápida assimilação com alto nível de abrangência e grande poder de sedução pelos estímulos que produz". É pra você consumir rapidamente e não perder tempo, simples assim.

Pronto, tô sacando agora porque os clipes são do jeito que são. Agora diz aí: como se faz um clipe legal?

Tem muitas coisas capazes de seduzir as pessoas em um clipe, o que significa que não existe uma fórmula única para se fazer um. Mas ainda assim existem pontos que podem ajudar seu clipe a chamar a atenção e fazer sucesso. Portanto, apresento a vocês o ponto mais importante desta aula: o manual de videoclipe!

Agora que você já conhece melhor a teoria do videoclipe, é hora de conhecer o passo a passo de como fazer um clipe legal - ou, ao menos, um clipe de sucesso. Depende do que você gosta.

O primeiro passo para trabalhar sua imagem em um clipe é justamente ter uma imagem e construí-la ao longo do tempo. O segundo passo é saber exatamente que público você quer atingir - mais cabeçudo, cachorreiro, zueiro? Finalmente, basta ir atrás dos elementos que atraem esse público. Esses elementos serão clipados seguindo a linguagem MTV e pronto! Seu videoclipe pode ir ao ar e atingir milhares ou até milhões de visualizações!

Saiba pra quem falar
Uma vez que você construiu sua imagem, é hora de saber pra quem você direciona seu clipe. Isso será determinante na hora de decidirmos o que será clipado. Miley Cyrus, por exemplo, tinha a imagem de uma estrela da Disney. Com isso, seus clipes eram voltados para pré-adolescentes, em especial meninas. Determinado o público, os clipes foram direcionados justamente a essas pessoas e escolheu-se clipar apenas o que poderia ser bem aceito por elas.



Cansada de ser a estrela da Disney, Miley decidiu mudar sua imagem. Passou então a ser uma menina-mulher super ousada. Com isso, seus clipes passaram a se voltar a um público menos "infantil" e passaram a se dirigir a adolescentes mais velhos e adultos até uns 25 anos, além de buscar também alguns homens. Determinado o público, Miley passou a colocar coisas mais ousadas em seus clipes para que eles pudessem ser bem aceitos por esse novo público.



Tudo clipado, tudo montado e coreografado, tudo MTV. Miley muda sua imagem, mas não as linguagens.

Tudo bem professor, mas quais são as nossas opções de coisas para se fazer em um clipe?

São infinitas as possibilidades e aqui falarei das mais populares. Afinal, objetivo desta aula é te ajudar a fazer um clipe de sucesso.

Balance o esqueleto
Uma das coisas que mais ajudaram a popularizar os videoclipes são as dancinhas. Quem acha que "Gangnam Style" faria sucesso sem sua coreografia tosca?



Dançar num videoclipe pode causar tal envolvimento que a pessoa acaba se sentindo empurrada para o meio da sala pra tentar repetir a dança. Seja uma coreografia mais ensaiada, seja uma coisa totalmente aleatória, sejam várias coisas aleatórias.






Destaque também para a melhor coreografia de todos os tempos: "Thriller".



Sensualize
A sensualidade é uma parte importante da cultura pop. Madonna construiu boa parte de sua imagem na sensualidade e seu sucesso acabou sendo um impulso para a consolidação das divas provocativas.









Do exemplo de sensualidade de Madonna vieram Britney Spears, Beyoncé, Rihanna, Nicki Minaj e a própria Miley.







Pode falar o que quiser, mas nada com um pouco de sensualidade pra chamar a atenção. E é até melhor que as coisas sejam assim (posteriormente, poderemos fazer uma aula sobre isso).

Bota umas mulher pelada
Isso não foi abordado no tópico sobre sensualizar? Claro que não, estamos falando de mulher pelada e não de mulher provocando. Qualquer dúvida, é só ver a diferença entre os clipes da Madonna e esse do Skank.



Há muitas diferenças entre uma coisa e outra, mas a principal é que quase todos os clipes nessa linha são de HOMENS, de "Girls On Film" até "Blurred Lines".





(Os dois clipes acima estão em suas versões "safe for working", mas na Internet você acha as versões "pesadas")

O Brasil já teve sua época do "peladismo" no pop, um pouco antes do Charlie Brown aparecer. E até hoje vemos exemplos de como o corpo feminino é usado pra chamar a atenção para um clipe.









Origens parecidas, conteúdo diferente. A sensualidade e o "peladismo" têm origem na junção entre sexualidade e arte pop que existe desde a explosão sexual dos anos 50. Chama a atenção mesmo que não excite, pois a nudez e o sexo são (ainda) motivos de escândalo. E escândalo dá audiência - pergunte à Miley.

Mostre um pouco de amor
Se você ficou meio envergonhado com os dois tópicos acima, ofereço de coração um pouco de The Script - até para introduzir nosso próximo tópico.



Lembra quando falamos lá em cima que os videoclipes geralmente apresentam carga emocional? Então, não há clipes que representem isso melhor do que os românticos. Não é verdade, Taylor?



Todos grandes artistas do cenário pop tem pelo menos uma balada de sucesso, até o Paramore! E que dizer de Bruno Mars, Katy Perry, Capital Inicial (cara), Cyndi Lauper,... Puxa!











Não é preciso reiterar de que serve mostrar um pouco de amor: envolver as pessoas emocionalmente é um dos objetivos de um clipe - e quer coisa melhor pra envolver emocionalmente do que isso?

Tire sarro
Vamos lá, carga emocional não é apenas pra fazer chorar...



A zoeira não é exclusividade dos Mamonas Assassinas, nem aqui, nem nos EUA. Não é verdade, Katy?



(Pronto, fiz um "não é verdade?" pra cada. Sem encheção de saco, viu fandons?)

Ninguém representou melhor o estilo "zoeiro" nos videoclipes do que Weird Al Yancovich, que faz paródias de músicas de sucesso. O clipe abaixo é mais ou menos recente e você deve conhecer:



Já o clipe abaixo é de 1984 - sim, era pré-Internet - e conhece melhor quem viveu o fenômeno Michael Jackson:



Isso também merece uma aula em particular, não? Mas não é hora pra suposições, então aqui temos mais alguns exemplos de como a zoeira pode ser determinante no sucesso de um clipe. Exemplos que vão de P!nk a NX Zero.









A zoeira não tem o mesmo impacto emocional do amor romântico, mas viraliza muito mais fácil (mais uma vez, "Gangnan Style" é a prova). Não é por acaso que os canais de humor estão entre os mais bem sucedidos da Internet e, querendo ou não, isso se reflete também na música e no videoclipe. Vai de zoeira e tudo fica bem.

Se engage
Não pense que você vai conseguir construir sua imagem sem ter que escolher entre se preocupar (ou aparentar) com as pessoas ou ignorá-las. Só avisando que a falta de sensibilidade social costuma fazer mal aos artistas.

Mas não se preocupe, o engajamento pode fazer bem às pessoas. Veja o caso do U2: só não ficou irrelevante ainda por causa disso (musicalmente já não significa nada).



Aqui falamos de videoclipe - e uma das melhores estratégias para seu clipe fazer sucesso é torná-lo um clipe engajado. Até Michael Jackson já entrou nessa!



Também entraram nessa os Black Eyed Peas, Radiohead, Detonutas e um sem número de artistas.











Se engajar faz bem à sociedade e a você mesmo, que pode dormir tranquilo por saber que sua indignação não está sendo guardada e pode ajudar a mudar o mundo. E de quebra, faz as pessoas se interessarem por aquela mensagem que pode te presentear com alguns milhões de views.

Faz a festa
Imagine que inúmeras pessoas podem querer ser iguais a você. Imagine que elas queiram seu estilo de vida. Imagine que elas gostariam de imitar alguém que vive festejando. Imagine tudo isso enquanto vê o clipe abaixo:



Todo mundo gosta de festa. E festa tem pra tudo que é gosto. Pode ser assim mais simples:



Ou assim mais doida:



Mais alguns exemplos pra você captar a mensagem:







Seja pra se sentir numa festa, seja pra fazer nossas próprias festas, clipes com festas são sempre uma boa inspiração. Afinal, quem não gosta de festa?

Endoida
Clipes doidos costumam ser bem legais de se assistir. Sabe quando você vê um clipe e fica se perguntando: "o que foi isso?". Então, é legal causar essa sensação nas pessoas.









Mete a banda lá tocando
Se nenhuma das ideias acima lhe agrada, vamos então voltar ao básico: a banda tocando a música que está tocando. Sem nada demais. Tipo o Coldplay no clipe abaixo:



Nesse modelo, é possível conciliar simplicidade com ideias legais e sutis. Assim você poupa muito esforço - e dinheiro para produção - e ainda consegue fazer uma coisa bem feita e que dá certo.









Mais alguma ideia?
Ainda tem algumas: ostentação, chique, animações,... Vai do gosto do freguês.







Se ainda assim você prefere outra inspiração, dá uma vasculhada no YouTube porque tá sempre aparecendo clipe novo por lá. Se você achar muito cansativo, sites como o Vevo são uma boa pedida.

O que tem pra hoje?
Eu disse que esta seção seria fixa... É claro que pra hoje tem uma porrada de clipes sendo postados na Internet e exibidos em programas de TV. A seguir, eu listo alguns que eu gosto (opinião pessoal falando).





(Tente fazer isso quando for à academia. Vai ser legal...)









(Não sei se é o clipe oficial, mas é o que passava na MTV Europa)



(Mais uma vez, um de cada pra acalmar swifties e katycats. Já contei que acho a Taylor linda? Aqui nesse blog não, acho...)



Acho que aqui temos uma boa pauta pros colaboradores desse blog. O que vocês acharm de compartilhar aqui os seus clipes favoritos (clipes, não músicas. Uma música ruim pode ter um clipe bom e vice-versa)? Seria uma ótima brincadeira.

Finalmente revelados os segredos do bom videoclipe. Faça bom proveito deste manual e, ao fazer sucesso, não se esqueça dos amigos.

***
Por que eu demoro tanto pra fazer as aulas da Escola Musical? Será que é porque a pesquisa é bem complicada? Bem, prometo que em breve teremos nossa aula nº 4. Não deixem de dar suas sugestões e tapas na cara aqui nesta caixa de comentários ou na nossa página no Facebook. Pra ouvir no recreio, um clipe muito, mas muito ruim.