2015

segunda-feira, 2 de novembro de 2015

Silvio, ditadura e submissão


Duas pessoas estão em destaque na foto acima. Um é Silvio Santos, que dispensa apresentações. O outro é João Figueiredo, o último dos presidentes da ditadura que se seguiu ao golpe de 64 - que todo mundo afirma ser uma ditadura militar, ignorando a decisiva participação de civis no golpe, em especial os civis ligados ao governo dos EUA.

A foto é um lembrete de que Silvio, assim como os outros donos da mídia, está disposto a cortejar poderosos para conseguir o que quer. Não que eu esteja sendo um iconoclasta televisivo querendo destruir a imagem de Silvio Santos, mas é que esta semana saiu um meme transformando o Homem do Baú num herói dos Revoltados Online.

Segundo a imagem compartilhada no Facebook por centenas de revoltadinhos, Silvio orientou o SBT a ser "oposição de qualquer um que ferrar o povo". "Agora é pra bater até cair. E se não cair vamos morrer tentando. Conto com a audiência do povo de bem". A imagem já foi devidamente desmentida por Gilmar Lopes no E-Farsas, não é o caso de se preocupar com ela. Mas chama a atenção o fato dos revoltados tentarem transformar Silvio num guerrilheiro a favor do povo contra os governos malignos (os do PT, claro). Se você realmente acredita na boa vontade do patrão é porque você não sabe como ele construiu seu império televisivo.

Antes de continuar, é bom lembrar que a única emissora que realmente se opôs ao golpe de 64 e à ditadura dele decorrente foi a TV Excelsior, de Mário Wallace Simonsen, apoiador de Juscelino Kubitschek na eleição de 1965 (que nunca aconteceu) e do governo de João Goulart (que o golpe depôs). A Excelsior teve sua concessão cassada pela ditadura e saiu do ar em 1970. Esse era o destino de quem realmente se opunha à ditadura: perseguição e censura. Se alguma emissora sobreviveu aos anos 60 e 70, pode ter certeza de que ela apoiou os ditadores de plantão. Globo, Record e Bandeirantes trafegaram às escuras.

Foi nos anos 70 que Silvio ganhou sua primeira concessão de TV. O Notícias da TV de Daniel Castro revelou recentemente que Silvio tentou, já em 1971, ficar com o canal da Excelsior, mas o governo da ditadura recusou. Não porque fosse um "subversivo", como eles gostavam de chamar os opositores, mas porque o governo temia que o novo canal fosse popularesco em excesso. Em 1976, Silvio chegou lá: nesse ano foi ao ar a TVS, canal 11 do Rio de Janeiro. Um ano antes, Silvio mandou a seguinte mensagem ao presidente Ernesto Geisel:

É meu desejo formar uma rede de emissoras de televisão que aumentará a produtividade [sic] Nacional, auxiliando as pequenas e médias empresas com publicidade sem ônus [sic], profissionalizar os universitários de talento artístico, ampliar o mercado de trabalho para o Artista Brasileiro e dar ao Povo do nosso país uma programação que reúna Cultura [sic], Informação, Música e Entretenimento. 

Esteja certo de que eu não vou decepcioná-lo. Pode confiar.

Ajude-me a ajudar o Brasil, permitindo que este desejo se torne muito breve em realidade.

Em 1980, a Rede Tupi, dos Diários Associados fundados por Assis Chateaubriand, saiu do ar atolada em dívidas e o Brasil ficou com canais de TV vagos e sem imagem - era o espólio da Tupi, que incluía os canais 4 de São Paulo e 6 do Rio de Janeiro. O governo Figueiredo decidiu dividir o espólio em duas partes: uma encabeçada pelo 4 de São Paulo e outra encabeçada pelo 6 do Rio de Janeiro. Essa última incluiria também o canal 9 de São Paulo, inutilizado desde o fim da Excelsior.

Apresentaram-se para a compra, entre outros, os grupos Abril e Jornal do Brasil, mas Roberto Marinho temia a ambos, o primeiro pela capacidade de levantar dinheiro dos EUA - como o próprio Marinho fez ao montar a TV Globo em parceria com o grupo americano Time-Life - e o segundo pela tradição e rivalidade no mercado de jornais do Rio.

No livro O Quarto Poder - Uma Outra História, Paulo Henrique Amorim conta que "Marinho procurou demonstrar que o mercado brasileiro não comportava outras redes de televisão. Só havia dinheiro para ele. Chegou a enviar documentos minuciosos e secretos ao presidente da República, que foram parar nos arquivos pessoais do secretário particular do presidente, Heitor Aquino Ferreira".

Contra a Abril pesou a questão da nacionalidade: a legislação da época proibia que estrangeiros tivessem empresas de comunicação e os Civita não apenas sabiam levantar dinheiro fora do Brasil como eram eles mesmos estrangeiros - Victor nasceu nos EUA e viveu na Itália antes de se fixar no Brasil; Robert, que depois virou Roberto, era italiano e viveu um bom tempo nos EUA, onde trabalhou. Leonel Brizola se perguntou uma vez: "Quantos passaportes têm os Civita?"

Contra o JB, pesava a péssima administração (nos anos 80, o JB já estava morto. Foi enterrado nos anos 2000) e a desconfiança que Figueiredo tinha quanto ao governismo do Nascimento Brito, dono do Jornal.

Por fim o espólio da Tupi foi dividido entre Adolpho Bloch, que levou a Tupi do Rio e fez a Manchete, e Silvio Santos, que levou a Tupi de São Paulo e transformou a TVS em SBT.

Mais uma vez citando o livro de PHA, "talvez o que tenha pesado mais a favor de Silvio Santos foi o fato de ele possuir amigos do peito no governo. Délio Jardim de Mattos, ministro da Aeronáutica nos governos Geisel e Figueiredo, era seu fã. Além disso, Silvio tinha a simpatia de Dulce Figueiredo, mulher do presidente e parente de Carlos Renato, jurado de um de seus programas de auditório". Segundo uma matéria da Veja em 2000, "os militares, em geral, o viam com simpatia". Dizem que o próprio Nascimento Brito chegou a prever que, com os canais de televisão, Bloch e Silvio jamais trairiam o governo.

Dito e feito: uma das primeiras coisas que o SBT fez foi exibir um quadro "jornalístico" chamado "A Semana do Presidente", no qual, segundo a Veja, "mostrava imagens oficiais de Figueiredo, como se isso fosse a coisa mais interessante do planeta". Foi uma das várias formas de agradecer pelos canais que recebeu.

Silvio também nunca pensou em tornar o SBT maior que a Globo, o que fez que a coisa ficasse em casa também para Roberto Marinho. O autor destas linhas lembra até hoje do slogan "SBT, na nossa frente só você", uma reedição mais, digamos, sutil do antigo slogan "líder absoluto da vice-liderança". 10 pontos eram o suficiente para que Silvio tivesse uma estrutura empresarial que lhe convinha. Hoje, com a migração da audiência, 5 ou 6 pontos bastam.

Quanto à independência em relação ao dinheiro público, a primeira coisa que Silvio temeu quando Rachel Sheherazade (é assim?) falou do "marginalzinho" foi que o "SBT Brasil" perdesse o patrocínio da Caixa. Silvio proibiu os jornalistas da casa de opinarem mais por causa disso do que por qualquer compromisso com os direitos humanos. A parte mais sensível do corpo humano é o bolso.

Silvio não é um vendido aos governos, mas a imagem de velho caduco que ele exibe em seu programa dominical não condiz com a realidade. Ele é muito mais esperto do que se diz e sabe como ninguém o caminho para se obter boas vantagens. Ou, como se escreveu na matéria da Veja, "não que Silvio apoiasse politicamente os militares. Beneficiava-se deles".

E pra falar a verdade, que bom que Silvio não mandou bater no governo. A função do jornalismo não é essa...

quinta-feira, 17 de setembro de 2015

Sobre fãs e fãs políticos


É difícil ouvir críticas às pessoas que a gente gosta. É difícil porque a gente acaba, direta ou indiretamente, tomando essas críticas para nós mesmos. A gente sofre com eles, nossos amigos, nossos pais, nossos irmãos, nossos vizinhos, nossos colegas de escola,... e nossos ídolos.

Falo por experiência própria. Quando saiu a treta da Taylor com a Nicki, quase perdi a compostura com o número de pessoas chamando a loira de racista e falsa. Também me irritei com o editorial do Independent dizendo que o feminismo da Taylor é "falso" porque é "branco". E me irritei profundamente quando Katy Perry - provavelmente num ato de vingança por "Bad Blood" (clipe abaixo) - disse que o feminismo da Taylor é hipócrita.



O truque aqui é respirar, contar até 10 e se colocar no lugar das duas pessoas. Você vai perceber que a maioria das pessoas, mesmo as que têm razão ao falar que não se pode ignorar o racismo, pensam mais com o fígado do que com o cérebro. Taylor errou, mas por interpretar um tweet errado. Nicki está certa ao dizer que há racismo na música, mas isso não faz da Taylor uma vilã - muito menos uma vilã racista. Ela só interpretou um tweet errado. O ideal era que as duas se entendessem, para o bem das causas que defendem, e não que os fãs ficassem discutindo quem tinha razão.


Enfim, a questão Taylor x Nicki foi resolvida, as duas subiram no palco do VMA para cantar "The Night Is Still Young", as experiências de militância de ambas - o feminismo de uma e o combate ao racismo de outra - estão de mãos dadas, finalmente. Vida que segue.

Mas fiquem tranquilos que isso não é mais uma aula da "Escola Musical". A verdade é que nosso ídolos não estão apenas nas artes. Muitos deles estão na política. E o artigo de Pedro Alexandre Sanches sobre a "misoginia" das críticas à sua "ídala" Dilma Rousseff mostra exatamente o ponto de que criticar nossos ídolos dói em nós mesmos.

"Todo mundo sabe que a misoginia campeia soberana nos terrenos férteis e lodosos da direita, de reinaldos e josias (esse último é o mais grotesco entre tantos misóginos antiDilma). Mas faz estragos também na blogosfera progressista, na parcela dela que não crê nas políticas do corpo como políticas de Estado".

"A atitude Desabonadora, Desqualificadora e Denegadora Diante de Dilma é generalizada na blogosfera progressista, nos professores de governo daquela que foi eleita e reeleita apesar de não saber governar. Esses, além de gastar 70% do tempo combatendo a corrupta e Decadente imprensa tradicional, Desperdiçam os outros 30% Depreciando uma presidentA que tem atravessado feito amazona uma floresta de espinhos. (Não sou nada bom em matemática, mas, noutras palavras, passam 30% do tempo ajudando a consolidar o ponto de vista da mídia Decrépita que Detratam em 70% do tempo.)"

Quem escreve estas linhas votou em Dilma (não, direitistas, eu não recebo nada do PT, nem Bolsa Família. Se recebesse pra falar bem da Dilma, não seria tão pobre). Não me arrependo. Foi um exercício de lógica: quem fica com o dinheiro que sobrou da crise internacional? O Coleguinhas explica melhor o assunto.

Não considerava Dilma uma "fraca" quando votei nela - eu jamais votaria em um político fraco. O problema é que o dinheiro começou gradativamente a sair do bolso dos pobres e passar para o "mercado". E era esse programa que o Brasil tinha rejeitado quando escolheu Dilma em vez de Aécio.

(Dizem que a estratégia era se render na economia para avançar em outras questões, já que o Congresso eleito era o pior desde 1964. Se a estratégia era essa, Dilma falhou, como prova a ascensão de Eduardo Cunha).

Basicamente, o PT venceu eleições porque seus governos deram passos importantes em realizar as tarefas mais urgentes no desenvolvimento social brasileiro. Não foi porque o partido do bem derrotou o "imperialismo americano", a "elite" e a "mídia golpista". Nem foi porque o malvado Foro de São Paulo manipula as pessoas. Foi porque o dinheiro chegava no bolso dos pobres.

O ajuste fiscal é o chifre que leva ao divórcio, para ficar no terreno das comparações. Durante os protestos de junho, muita gente chamava Dilma de corrupta e gritava "fora PT", mas mesmo quando a popularidade de Dilma caiu, ela continuou mais popular do que FHC em seus anos mais traumáticos. Depois do ajuste, o grito de "fora Dilma, fora PT" ganhou força entre aqueles que compunham sua base: os mais pobres, que viram conquistas de décadas serem ameaçadas pela tesoura de um ministro da presidenta que repetiu a palavra "social" nos debates mais do que qualquer outra.

A popularidade baixou a um dígito. E um governo impopular sempre tem mais dificuldade em dialogar com o Congresso. A crise nasceu daí. E é isso que fez Dilma enfraquecer. Não é o fato de ser mulher, mas o fato de não contar mais com o apoio popular que lhe deu força para vencer Aécio Neves em uma eleição disputadíssima. A oposição sempre se aproveita da falta de apoio de um governo para ganhar força visando eleições futuras - é o que está acontecendo nos EUA e vai acontecer na Grécia. É também o que o PT fez com Fernando Henrique, um presidente que saiu do poder... fraco.

Atribuir ao machismo as críticas que a esquerda progressista faz ao governo é uma miopia que só se justifica pela forma como os fãs da Dilma - e aqui eu excluo boa parte dos militantes mais críticos - sofrem com as críticas que fazem a ela, mais até do que a própria Dilma.

É claro que o Nassif, por exemplo, não é aquele jornalista com quem eu concordo. Se houvesse golpe todas as vezes que ele disse que ia ter um, o Brasil seria mais instável que o universo de "Game Of Thrones". Mas é estranho que as críticas vindas da esquerda à blogosfera progressista sejam direcionadas à contestação que essa blogosfera faz ao governo. Diz-se que eles fazem o coro da "imprensa golpista" - ou PIG, como diz Paulo Henrique Amorim (cria uma cobra e morrerá picado) - e que estão atrapalhando o governo (como se a função da mídia, de esquerda ou de direita, fosse ajudar algum governo). Teve gente que até mandou coisas como "perdemos a CartaCapital para o PIG", em razão de críticas que essa revista fez ao ajuste fiscal.

O truque aqui é respirar e contar até 10. Todo mundo que votou na Dilma, inclusive eu, pode criticá-la por qualquer coisa que ela fez, basta não concordar com ela. Apoiar um governo não significa aferrar-se a ele. Da mesma forma que o NY Times, apoiador de Obama, critica atitudes de seu governo. É essa a diferença entre apoio editorial e discurso de fã.

E você pode discordar de quem discorda do governo - usando argumentos, claro, e não a mera convicção de fã. É difícil, mas vale a pena porque ajuda a melhorar o ambiente político do Brasil, contaminado por discursos cada vez mais radicais.

O que não pode é atribuir uma falsa causa - machismo, misoginia, racismo, rendição ao PIG - para invalidar uma opinião contrária ao governo. Até porque fora dos fã-clubes, esse discurso não cola.

E ai de quem falar mal da Taylor nos comentários...

sábado, 22 de agosto de 2015

Dessa vez, eu vou ser o primeiro a palpitar nas Eliminatórias


Fala pessoa que está lendo este artigo, beleza? E aí, já tá preparado pras Eliminatórias da Copa da Rússia em 2018?

Sim, esse artigo vai falar do esporte futebol, não das mutretas que acontecem em torno dele, portanto, se você é mais um daqueles que pensa que o brasileiro dá muito valor pro futebol e que não vai "compactuar" com tais atividades "ilícitas", vai lá assistir seu Game Of Thrones (que é produzido pela HBO), ou seu MasterChef (que, no Brasil, é transmitido pela Band), ou jogar seu League of Legends (que é distribuído pela Riot Games), ou assistir Os Simpsons (transmitido pela FOX), ou até a NBA, NFL, UEFA Champions League, MMA, UFC etc. Seu acesso já foi registrado, obrigado.

Esse artigo é sobre o meu palpite (e só o meu palpite) sobre o que vai acontecer nas Eliminatórias da CONMEBOL para a Copa do Mundo da Rússia. Veja se você concorda:


Eu sei que tem muito chão pela frente, as coisas mudam. Meu palpite foi baseado em tudo o que vem acontecendo desde a Copa de 2014 até aqui.

A Argentina terminaria em primeiro porque, ultimamente, é o melhor time da América do Sul, não só pelos jogadores (Messi, Tevez, Aguero, di Maria, Mascherano, Higuain etc.), mas também pela disciplina tática que a equipe está mostrando.

O segundo lugar ficaria uma briga entre o Chile e o Uruguai, o Uruguai tem seus jogadores com uma vantagem técnica sobre os chilenos, porém, o Chile tem um time mais completo, que não sente tanto os desfalques. Essa característica do time chileno faria o Chile levar a 2ª posição.

A última vaga e a vaga da repescagem ficariam numa disputa mais equilibrada. A Colômbia levaria a 4ª vaga porque já tem um time montado a mais tempo, ao contrário do Brasil, e não depende tanto de um só jogador, ao contrário de times como Peru, Paraguai e Equador.

O Brasil só ficaria com a repescagem pelo fato da qualidade técnica dos jogadores (convenhamos, não são os jogadores que são o maior problema da seleção). O Brasil não forma um time e parece não se esforçar pra isso. Além disso, dá muito valor pra opinião da torcida, mas, ainda se classificaria porque o Peru, o Paraguai e o Equador não teriam pique para aguentar todo o campeonato e o adversário do 5º lugar da CONMEBOL é o campeão da OFC (Nova Zelândia, praticamente).

Se alguém pode me surpreender positivamente é o Paraguai, já que o esforço deles é de montar um time, e a Copa América mostrou que eles estão no caminho certo. E se alguém pode me surpreender negativamente é o Uruguai, já que possui jogadores "muito experientes" e não possui substitutos à altura.

Águas vão rolar durante os próximos anos, mas, eu não acho que mudanças drásticas vão ocorrer no futebol sul-americano.

E fique ligado, o Um Pouco do Nosso está planejando algo legal pra essas Eliminatórias. Se ninguém comprar os direitos de transmissão até o dia 30 de agosto, a OFC vai passar as Eliminatórias da Oceania no YouTube. Assim, o Um Pouco do Nosso vai ser o primeiro blog brasileiro da história a acompanhar um evento como esses pra saber quem vai enfrentar o Brasil na repescagem. Interessante, não?

Então, não perca tempo e acompanhe-nos.

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terça-feira, 21 de julho de 2015

O Google alguma vez já te disse "isso não é verdade"?


Será que a googlada é uma boa ferramenta para formar opinião? A pergunta surge quando pessoas discutindo sobre política, economia, religião, saúde entre outros começam a se embasar por pesquisas realizadas no Google.




Uma frase que vem se espalhando ganha sentido nesse contexto: "A internet é terra de ninguém". "Terra de ninguém" porque todos os pontos de vista são colocados e publicados nela. Pessoas que têm argumentos diferentes sobre vários tipos de assuntos postam em blogs (assim como eu to fazendo agora hehehe), comentam em fóruns e redes sociais e compartilham notícias a todo instante.

Como todos já sabemos, o Google é uma ferramenta de pesquisa que pega as palavras ou a frase que você joga na barra de texto e procura frases parecidas ou iguais às digitadas em inúmeras páginas do mundo todo. Nós também sabemos que existe aquela "pesquisa avançada" do Google que faz com que o resultado seja ainda mais convincente, mas, sejamos sinceros, qual é a frequência de uso dessa ferramenta?

O resultado da pesquisa é aquilo que queremos ver. Se digitarmos "Lula pediu habeas corpus" vão aparecer resultados de notícias que mostram que foi o Lula que pediu, antes do verdadeiro autor do pedido aparecer (lembra desse caso?). Podem até aparecer resultados desmentindo a informação, mas, não estarão no início, porque pro Google (que é uma máquina), você não queria ver isso.

Pra comprovar, foram feitas algumas pesquisas supondo opiniões diferentes sobre assuntos variados. Aqui estão quatro resultados interessantes (as únicas montagens que eu fiz foram para retirar os anúncios, eu juro!)


O Resultado da Seleção na Copa América deixou uma dúvida na cabeça de muitas pessoas. Até na do Google.

Nessa semana, a Bela Gil causou uma polêmica falando que escova os dentes com cúrcuma (como se isso fosse motivo de polêmica). Aí eu perguntei pro Google.

Fato ou crendice? Essa nem o Google sabe.

Ah Google, agora você tá tirando uma da minha cara!

Viu aí? Se o Google não consegue nem responder se galinha voa ou não, imagina usar as respostas dele pra falar de gestão política, socialismo x capitalismo, corrupção nos partidos, sintomas de doenças, doutrinas religiosas etc. É um desastre!

O Google deve ser usado para o fim que lhe foi dado, ferramenta de pesquisa, é um apontador dos caminhos. Não use a "googlada" para formar opinião. E eis aqui algumas dicas de como usar o Google de uma maneira mais certa:

  1. Aprenda a opinião adversa: Não é só ler, aprender também. Aí você vai ter argumentos mais válidos para defender a sua opinião.
  2. Procure fontes confiáveis: Fontes confiáveis no geral, não só na sua opinião. Se você tem mania de boicotar fontes (G1, Veja, R7, Carta Capital, LanceNet etc.), tenha em mente que isso é uma hipocrisia.
  3. Yahoo Answers e Wikipedia não são tão confiáveis: Como sabemos, as informações de sites desse tipo são editadas por usuários. Por mais que existam pessoas bem intencionadas, os idiotas ainda enfestam a "terra de ninguém".
Agora, pra finalizar, deixa eu tentar ser poético pra tentar fixar de vez onde eu quero chegar. A-ham:

"A googlada é como um canto de uma sereia, cantando o que o navegante da web quer ouvir e atraindo-o para um mar de desinformação e confusão."

To aprendendo, hein? 


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quarta-feira, 8 de julho de 2015

A arrogância antes e depois do 7x1


Béla Guttmann não apenas não conhecia a realidade do futebol brasileiro como nem sequer falava português. Comunicava-se com os jogadores do São Paulo do jeito que dava: "pá pá pá pum", dizia quando queria que os jogadores fizessem uma troca de passes e finalizassem. Os métodos do húngaro form vistos com desconfiança antes mesmo que ele iniciasse seu trabalho no Tricolor, que durou entre 1957 e 1958, quando saiu para dirigir o Porto e depois montar o grande esquadrão do Benfica dos anos 60.

Guttmann era um treinador ofensivo - sua principal inovação no São Paulo foi trazer o 4-2-4, adaptação do velho WM feita por outro húngaro, Marton Bukovi, treinador do MTK Hungria e inspirador do esquema da emblemática seleção húngara da Copa de 50, comandada por Gusztáv Sebes e liderada em campo pelo lendário Ferenc Puskás. O diferencial tático era o centroavante transformado em meio-campista - papel personificado por Nándor Heidegkuti na seleção húngara. Sebes classificava o 4-2-4 como "futebol socialista", embora o esquema não tenha nada a ver com política.

Vicente Feola, treinador do São Paulo antes de Guttmann, foi assistente do húngaro na conquista do Paulistão de 57, um dos títulos mais celebrados pelo clube até hoje. Feola foi chamado para dirigir a seleção brasileira na Copa de 58 e aplicou o 4-2-4 aprendido com Guttmann. Didi era o diferencial tático, assim como Heidegkuti na Hungria. Zagallo recompunha o meio campo dando liberdade para Nilton Santos descer pelo lado esquerdo. O time contou também com grandes atuações de Garrincha e Vavá, sem falar na presença de Pelé, então estreante com 17 anos. No 4-2-4 húngaro, o futebol brasileiro se reconheceu como tal e ganhou sua primeira Copa do Mundo.

O Brasil deveria ser grato às lições dos Mágicos Magiares, mas preferiu se fechar em uma arrogância nunca antes praticada por outro país, em especial após a vitória de 1970 ainda taticamente inspirada pela geração dos anos 50, mas envolta na propaganda ufanista da ditadura. Seguiriam-se cinco desastres até o tetra-campeonato em 1994 (o autor destas linhas tinha um ano). Mais um desastre e depois o penta, primeira Copa do Mundo que assisti inteira. O desastre veio depois.

Após duas eliminações em quartas de final (2006 contra a França e 2010 contra a Holanda, ambas vice-campeãs), o Brasil jogou em casa com a mesma propaganda ufanista da Copa de 70, desta vez estimulada pela mídia. O resultado é conhecido e completa um ano hoje.

A revelação de Daniel Alves de que Pep Guardiola queria treinar a seleção brasileira na Copa de 2014, mas a CBF recusou, é um sinal de que a arrogância do futebol brasileiro beira o ridículo de achar que nenhum técnico estrangeiro tenha algo a acrescentar à seleção que "sozinha" foi penta-campeã do mundo. Anrés Sanchez, que na época da saída de Mano Menezes era o diretor de seleções da CBF, chegou a esnobar Guardiola: "Posso até ser voto vencido, mas no Brasil nós temos grandes treinadores. É ridículo precisar de um nome estrangeiro, seja quem for".

Quem sabe Guardiola não pudesse ter o impacto de Béla Guttmann? Ou então do argentino Felipo Núñez, um dos mentores da primeira Academia do Palmeiras? (Núñez assumiu a seleção brasileira por um jogo, quando o Palmeiras vestiu a camisa amarela e venceu o Uruguai por 3x0 no dia 7 de setembro de 1965) Parecia que o técnico estrangeiro seria uma negação à própria pátria de chuteiras. A realidade, porém, é que o Brasil nada seria sem eles, húngaros, argentinos, paraguaios.

A arrogância é característica plantada no torcedor brasileiro de tal forma que a impressão que fica é de que o Brasil entra naturalmente superior e só perde quando assim deseja o destino - o "frango" de Barbosa em 50, a "roubalheira" no jogo contra a Itália em 82, a convulsão de Ronaldo em 98, Roberto Carlos arrumando a meia em 2006.

Em 2014 o Brasil entrou em campo sem filosofia alguma de jogo, mas não deixou de posar como um exército de guerreiros em nome do povo brasileiro. Fosse uma guerra de ocupação de territórios, seríamos todos alemães. Ainda assim, a seleção liderada por um ultrapassado Felipão sai dizendo que o problema foi um "apagão". Felipão sai para a entrada de Dunga, cuja primeira passagem foi marcada por números impressionantes que não dizem a verdade sobre o trabalho da seleção no período.

Um ano se passou e a seleção parece ter piorado. Após uma série artificial de vitórias em amistosos, a seleção fez uma Copa América sofrível em que ganhou do Peru jogando feio, perdeu bizonhamente para a Colômbia - com direito a expulsão de Neymar -, ganhou da Venezuela com medo de ir pro ataque (e ainda tomou gol) e saiu fora nas quartas num jogo feio contra o Paraguai. Na Copa de 2014, ainda houve um jogo convincente - o Brasil x Camarões. Na Copa América nada. A desculpa da vez? Virose. Pausa para rir.

A torcida já sabe que o Brasil está bem abaixo. Fora da CBF, já se considera a possibilidade de que o Brasil não se classifique para a Copa de 2018 - o que seria um fato inédito no país que disputou todas as Copas. As Olimpíadas de 2016 serão uma grande agonia. Mas a CBF insiste em não reconhecer a defasagem do futebol brasileiro em relação aos demais. O comitê formado por ex-jogadores e treinadores da seleção mostra que a CBF segue fechada para a possibilidade de se aprender com o que está dando certo. Prefere achar que somos autossuficientes em futebol. Não somos.

A CBF é uma entidade moribunda que tem a esperança de que um dia a pátria de chuteiras voltará e a torcida terá sua redenção pelos fiascos recentes. Essa forma peculiar de sebastianismo é compartilhada por boa parte da torcida e motivou as escolhas de Felipão e Dunga para o comando da seleção. Deu errado, dá errado e dará errado.

Será que a seleção pagará pela arrogância de sempre ficando fora de uma Copa do Mundo pela primeira vez? O 7x1 foi apenas o começo de uma sequência interminável de humilhações? Há alguma esperança para o torcedor que insiste em ver os jogos do Brasil com desejo de que o time jogue bem e vença? A CBF não está interessada em discutir o futebol brasileiro e não responderá estas perguntas. Em vez disso, seguirá motivando o ufanismo ridículo dos tempos da ditadura. A esperança é a de que Dunga aprenda, evolua, consiga dar uma mínima filosofia de jogo para uma seleção moribunda. Isso não está nem perto de acontecer, visto que Dunga nem vê os jogos dos atletas que ele convoca nos clubes.

Outra esperança seria uma nova geração de inspiradores, como os húngaros no passado. No dia em que o 7x1 completa um ano seria um necessário exercício de humildade reconhecer que o Brasil precisa de gente de fora pro futebol. Mas enquanto a arrogância for um problema do futebol brasileiro seguiremos ouvindo que os estrangeiros precisam conhecer o Brasil, que os técnicos brasileiros dão mais certo e outras babaquices. Até o dia em que o Brasil se tornar uma Venezuela. E a CBF acabar.

sexta-feira, 29 de maio de 2015

É o século XXI, estúpido!


Nasci nos anos 90. Uma época de planos econômicos, hegemonia neoliberal, suposta estabilidade da moeda e muita instabilidade no mercado de trabalho. A TV aberta não tinha freios morais e exibia closes genitais em bundas e coxas num domingo à tarde. Pra quem queria um conteúdo mais "sofisticado", a TV por assinatura era a grande ostentação - e um dos poucos luxos que eu tive em minha infância. O leite era C, a geladeira era ruim, a própria televisão do quarto tinha 14 polegadas, mas o cabo estava ali.

Não que fosse uma coisa essencial que a gente teve a vida toda -  pelo contrário, vivíamos numa espiral de cancelamentos e renovações -, mas o cabo estava ali, tirando todo o interesse que eu poderia ter em programas de auditório, telejornais na hora da janta, filmes dublados de noite, etc. Era como se a minha casa fosse parte de uma espécie de elite intelectual conectada ao mundo via cabo coaxial. Mesmo numa TV de 14.

Tenho TV a cabo hoje, mas assisto bem menos do que assistia há 20 anos. Ou mesmo 10. Em compensação, me rendi ao tão falado Netflix e estou tentando estabelecer uma espécie de calendário pra organizar tudo aquilo que eu quero assistir. Já faz algum tempo que os fins de semana têm sido dedicados aos jogos eletrônicos e aos vídeos disponíveis na Internet. Nos dias de semana, uma mistura de Twitter, smartphone (agora eu tenho um, voltei à vida digital) e tudo que eu puder consumir de vídeo, música, textos, publicações digitais, etc. Já há algum tempo eu imagino como seria minha casa sem TV paga. Desisto porque ainda tem gente nessa casa que usa. E porque o futebol fica melhor lá.

Nos EUA, as famílias Zero-TV - aquelas que não têm esse aparelho que faz parte das nossas vidas e vivem de vídeo direto no computador, geralmente com um monitor bem grande - já representam mais de 5% da população. Mais de 70% dos americanos ainda têm pelo menos um televisor em casa, mas ele é usado cada vez mais para jogar, navegar na Internet, assistir um filme, qualquer outra coisa que não seja ver um canal de TV. Em 2013, 37% das famílias americanas consumiam vídeo pelo computador, 8% em smartphones e 6% em tablets.

O tempo das pessoas não é infinito: se eu estou fazendo uma coisa, deixo de fazer outras. Antigamente, a mídia tradicional - TV principalmente - monopolizava a atenção das pessoas, fazendo com que elas vissem os closes genitais das tardes de domingo sem reclamar - e até curtindo um pouco aquele espasmo de sexualidade possível. Hoje, a atenção das pessoas está cada vez mais se concentrando em plataformas digitais, incluindo jogos e redes sociais. E se eu estou jogando Angry Birds, eu automaticamente não estou vendo o SBT. Nem a TV a cabo.

O jornalista Leandro Beguoci pediu em um artigo que fizéssemos o seguinte exercício: "olhe ao seu redor. Quantas pessoas estão usando o Whatsapp, o Facebook ou publicando no Instagram ao seu redor?". Faço esse exercício discretamente em qualquer lugar público e toda vez eu reparo que o número de pessoas mexendo em seus celulares é cada vez maior.

Mais computador, celular, tablet. Menos TV, rádio, jornal, revista. A mídia tradicional está disputando com novas mídias a atenção das pessoas. Atenção que um dia ela monopolizou. É nesse contexto que se apresentou o fracasso do retorno da Banheira do Gugu.

Chega a ser curioso ver que, mesmo na Internet, muita gente tenha atribuído o fracasso a coisas pontuais. Matheus Lanieri, por exemplo, escreveu que "faltou um pouco de RedeTV para a atração. Faltou ousadia e o público percebeu isso, fazendo com que durante o grande evento da noite a Record ficasse em terceiro lugar no Ibope". Guilherme Beraldo, meu xará do blog Portal 4, foi em caminho semelhante: "Os domingos da década de 90 eram mais ”apelativos” e o resultado na audiência era no ato. Ontem, o retorno da Banheira do Gugu afundou a Record para um ingrato terceiro lugar". Tudo isso escrito por jornalistas que, mesmo sem saber, disputam a atenção das pessoas com a Record, o Multishow, o FIFA 15 e o Netflix.

Aos fatos: a Banheira foi um dos assuntos mais comentados no Twitter. Primeiro pela expectativa, depois pela decepção. A Record disputou a atenção dessas pessoas e perdeu. Porque foi bizarro, porque falou imaginação e porque a Banheira foi um produto feito para um momento histórico diferente, em que se vivia um outro paradigma -  o do monopólio da atenção. Quem se decepcionou por não conseguir reviver os anos 90 com o quadro não se limitou à passividade de mudar de canal, como se fazia na época em que o quadro dava certo. Foi às redes sociais desabafar - e tirar atenção da TV.

Pode até ser que tenha faltado ousadia, apelação, etc. Mas um quadro bizarro como esse jamais poderia disputar a atenção com as coisas que nós gostamos de fazer. Eu vou assistir a Banheira sendo que eu posso escolher entre rever a superprodução que foi o clipe de "Bad Blood", aproveitar minha assinatura do Netflix, me atualizar em um portal de notícias, assistir algum vídeo do Porta dos Fundos que eu ainda não vi ou fazer uma playlist no Spotify? Qual a possibilidade?

A mídia sempre usou como estratégia ir pra onde a audiência vai, só que hoje a audiência tá indo pra tudo que é lado. Isso dissolve algumas certezas, como a de que o close genital vai fazer a audiência subir. E o impacto que isso traz ao modelo de negócios do audiovisual é terrível - as demissões na Record, emissora em que Gugu apresenta seu programa, deixam isso claro.

Repensar o relacionamento com a audiência, discutir o modelo de negócios baseado majoritariamente na publicidade, produzir um conteúdo de qualidade que seja coerente com esses novos modelos de negócio e de consumo de mídia, construir parcerias com os novos players do audiovisual - incluindo os provedores de conteúdo over the top (OTT), como o Netflix. Tudo isso parece muito mais importante para qualquer empresa de audiovisual - emissora, produtora ou mesmo canal de YouTube - do que descobrir uma apelação que dê muita audiência. Isso fica cada vez mais claro nos EUA, onde as redes abertas buscam cada vez mais a aceitação do mundo digital, mas está longe de entrar na cabeça dos responsáveis pela arcaica mídia brasileira.

Não é a apelação, não é o shortinho, não é a bomba que as "modelos" tomaram que fez o retorno da Banheira do Gugu ser um fiasco. É simplesmente o fato de que nós não estamos mais nos anos 90 e o que funcionava numa época de monopólio da atenção não funciona mais numa época em que a atenção se divide em assistir Masterchef numa tela e comentar no Twitter na outra. É um mundo que mudou e o Gugu não percebeu.

E quando eu quero relembrar os MEUS anos 90, vou ao YouTube ver vídeos como esse:

segunda-feira, 20 de abril de 2015

Eu quero que o 'bom gosto' se exploda!


Não gosto de funk carioca.

Não gosto pelo mesmo motivo que leva alguém a gostar: sem saber por quê.

A patrulha do "bom gosto", que determinou os estilos musicais que as pessoas "de bem" podem e não podem ouvir, dá um monte de motivos pra não gostar do funk: "só putaria", "é música de bandido", "não é cultura", "não tem profundidade". Nenhum deles é o meu. Até porque, em um passado não muito distante, essa mesma patrulha usava muitos desses argumentos contra o samba.

Há ainda um pedaço dessa patrulha que acha que o funk é uma expressão "americanizada" e que, por isso, deve ser evitada. Não tenho moral pra falar isso gostando de rock e electro-pop.

Não tenho raiva dos fluxos (que a mídia insiste em chamar de "pancadões" só porque soa mais pejorativo), nem acho que quem ouve funk é por definição ignorante e alienado. Já fui mais reacionário nesse ponto em diversos sentidos, mas agora eu tenho estado mais otimista em termos culturais. E não me importo de mandar "beijinho no ombro" pra quem enche o meu saco.

A mesma patrulha do "bom gosto" decretou que Racionais também é "música de bandido", mas eu vejo muito mais profundidade em expressões como "vi um pretinho, seu caderno era um fuzil". É um retrato nu e cru de uma realidade que os Racionais não endossam, mas sabem que existe graças a um círculo vicioso formado por miséria, desigualdade social e abandono.



Até hoje não sei como a patrulha permitiu que ouvíssemos Mamonas Assassinas, enquanto acusa o funk e o sertanejo de "sem profundidade". Não entendo como nos deixa ouvir funk desde que seja James Brown - qual a diferença entre a letra de "Sex Machine" e aquelas feitas pelo MC Dandara?



(Como disse o professor Murilo Cleto, "James Brown é bom demais. Mas o argumento de que é bom porque sua música e sua letra irrompem as barreiras da trivialidade e encontram com o sublime é mais do que desonesto. É imbecil")

Tem também o "pop lixo descartável". Na opinião da patrulha, devo ser um alienado que gosta de ouvir uma parceria do Zedd com a Selena Gomez.



Estou falando tudo isso porque, na Internet, o que não falta é gente pra usar os argumentos que rejeitei acima. O maior exemplo é Rachel Sheherazade, aquela do "marginalzinho com ficha mais suja que pau de galinheiro". "O funk carioca, que fere os meus ouvidos de morte", diz ela, "é descrito como manifestação cultural. Pior é que ele é, pois se cultura é tudo que o povo produz, do luxo ao lixo, funk é tão cultura quanto bossa nova. Sinal dos tempos, né?" Sim, sinal dos tempos que mudaram à revelia de certas pessoas.

Ainda nessa linha, podemos adicionar um certo Nando Moura, que se diz fã de rock. Como todo revoltado midiático, tal qual a própria Sheherazade, Nando dirige sua raiva aos alvos fáceis, como o PT. Não é capaz de ultrapassar em profundidade a TV Revolta, arremedo de página "política" que se popularizou nos meses que antecederam a eleição de 2014. O problema é que uma amiga compartilhou um vídeo dele dizendo que está "amaaaando" seu canal no YouTube.

O vídeo versa sobre a banda de metal do Mr Carta. É algo irrelevante pra mim, até porque não vou ouvir as músicas dele. Não porque ache que ele vai desonrar o rock, mas porque eu não gosto de metal também - a única música que carrego comigo é "No Pain No Gain", que não sei se faz parte do cânone do "metaleiro de verdade". E ainda desconfio que seja só porque o clipe tem imagens da seleção alemã, o que faz com que a música me lembre da atmosfera de uma Copa do Mundo (outra coisa que a patrulha do "bom gosto" acha que é alienação é o futebol, devendo ser consumido de forma desapaixonada. Não foi assim que eu vi a disputa de pênaltis ontem. E de que vale o futebol sem paixão?).

Nando ficou revoltado com a disposição de Catra e cometeu um vídeo em que diz, entre outras, coisas, que Catra é "um pedaço de merda", além de repetir os clichês contra o funk de que falei no começo do texto.

Eu, que não gosto de gente que fale que as coias que eu gosto são "pedaços de merda", fiquei com vontade de tocar o "1989" inteiro em versão metal, só pra deixar ele mais irritado (minha amiga não deve ter entendido, pois curtiu esse comentário).

Não preciso dizer que ele ia me odiar por fazer isso. Ele e todos os revoltados midiáticos acham que qualquer coisa que fuja do que eles gostam é "alienação", "manipulação", "descartável" e "não é cultura" ou é "cultura lixo". Mais uma vez citando Murilo Cleto, esse é "um discurso nada entalado nas gargantas de uma classe (...) que entende tanto de música quanto de cultura ou do mundo acadêmico. Aquela que gosta de sertanejo, mas - grife-se – o de raiz. Aquela que aprecia o funk, mas o James Brown".

É curioso que os que se dizem fãs do rock, um estilo que muito sofreu com o preconceito, sejam os que mais mostrem preconceito com outros estilos. O rock nunca foi um estilo refinado. Chuck Berry não chamava a atenção pela complexidade, mas o espasmo de libertação que só o rock poderia causar. Elvis também não era necessariamente um perito em arte, nem os Beatles com suas melodias simples - e é quase impossível achar alguém que não goste, ou que não tenha sido influenciado por eles. Hendrix distorceu sua guitarra e fez com que sua música fosse um tapa na cara do american way of life. E o que dizer do punk, cujos artistas acreditavam que três acordes bastavam? Ou do próprio metal?

Não é preciso dizer que o rock sofreu muito preconceito. Mas muito preconceito mesmo. Nos anos 50, os mais conservadores ficavam horrorizados com a rebeldia do rock, tanto quanto os supostos roqueiros de hoje ficam com o funk. Quando o rock chegou de vez ao Brasil, nos anos 80, a patrulha que hoje diz que funk "não é cultura" berrava contra o rock nacional dizendo que era alienante.

O estilo só foi plenamente aceito pela patrulha do "bom gosto" nos anos 90, quando começou a sair do mainstream. E ainda assim, vemos hoje uma ferrenha rivalidade entre os defensores do rock de guitarra alta - o de rádio, tipo Charlie Brown - e os defensores do rock de erudição - tipo Autoramas. Um diz que o outro não é "rock de verdade".

Por isso mesmo, é hipócrita que um roqueiro diga que o funk "e só putaria", quando foi o rock que trouxe a sexualidade e o amor livre para a cultura pop. Também é hipócrita falar em "música de bandido" para se referir ao funk, quando bandas de rock cantavam o crime em plena liberdade - "Breaking The Law" é o grande exemplo.

E é hipócrita que roqueiros usem contra o funk argumentos que já foram usados contra o rock - mas também contra o samba, o sertanejo "de raiz" e o James Brown. O fato é que, desde o modernismo dos anos 20, toda revolução cultural tem uma reação a se levantar contra ela. A diferença é que agora a reação está na moda.

Por isso mesmo eu quero que essa patrulha do "bom gosto" se exploda! Ouvir funk não te torna ignorante, ouvir metal também não. O que te torna ignorante é achar que, por ouvir, cantar, compor, produzir e/ou tocar um estilo de música, uma pessoa será inferior a você.

Beijinho no ombro e fique com "Débil Metal", dos Mamonas,

terça-feira, 17 de março de 2015

Só faltou eu pra falar da MP do Futebol


Fala galera! Não sei se vocês tão sabendo mais já foi sancionada a MP (medida provisória) que reparcela a dívida dos clubes brasileiros em até 20 anos. Em contrapartida, as administrações dos clubes deverão adotar o tal "fair play financeiro" (evitar que um presidente safado de um clube que sabe que está acabando o seu mandato de fazer financiamentos a longo prazo pra ferrar os próximos), investir mais nas categorias de base, investir mais no futebol feminino (vendo só pelo lado do futebol) e outras obrigações administrativas até mais importantes, mas, não vou detalhá-las aqui porque não é nessa parte do assunto que eu quero tocar.


"Não antecipar receitas previstas para mandatos futuros a não ser em situações específicas" - Esse é o tal "fair play financeiro". Fonte: Blog do Planalto

Por que será que o governo comprou essa briga com a cartolagem brasileira? Existem os representantes da oposição ferrenha que dizem que isso foi só uma manobra populista da Dilma para tentar calar a população. Existem os outros mais positivistas que dizem que isso foi somente por causa do apoio do Bom Senso F.C. que, graças à união com o governo, conseguiu bater até a tal Bancada da Bola no Congresso.
Mas uma parcela muito irritante gosta de falar que essa sanção é uma evolução no futebol, como se esses compromissos assumidos pelos clubes brasileiros fossem fazer o Brasil virar o jogo contra a Alemanha.
Alguns jornalistas repetem incessantemente a frase "foi isso o que gerou os 7 a 1 da Alemanha"  quando começam a falar das administrações dos clubes, da falta de interesse da torcida em ir nos estádios, da falta de jogadores no mercado brasileiro entre outras coisas.
Esses apontamentos costumam vir de comentaristas e jornalistas como José Trajano, Juca Kfouri, Neto, Roberto Avallone, Celso Cardoso e outros que, quando vão falar de um jogo, não falam do jogo. Não falam dos gols, do esquema do técnico, da atuação de determinado jogador, da polêmica de um lance decidido no apito ou das chances que determinado time tem de cair para a segundona, ou ir para a Libertadores ou ser campeão. Eles falam de cartolas, cartolagem, CBF e Rede Globo.
Talvez eles nem deveriam ser considerados comentaristas esportivos, deveriam ser considerados comentaristas político-esportivos (se algum professor de português quiser corrigir essa sentença, sinta-se à vontade). Gostam de meter o nariz onde não entendem. O que é improbidade administrativa? O fair play financeiro vai corrigir isso? Por que as concessões do Brasileirão são só vendidas à Rede Globo? Será apenas uma malignidade da Globo ou o retorno que a CBF vai ter com a transmissão na Globo será maior (compare os patrocinadores do futebol da Globo com os da Band)?
E uma coisa que é absurda, quem ouve a CBN no Momento do Esporte com o Juca Kfouri vê que ele reclama de públicos baixos constantemente. Se um XIII de Pindamonhangaba contra Itaquaquecetubense der um público de 1.500 pessoas, ele reclama, e vai indo na conversa até chegar no 7 a 1 da Alemanha.



Esses jornalistas só confirmam a frase dita por Maurício Cardoso, da revista Placar: "O brasileiro não gosta de esporte, gosta é de ganhar". Essa frase surge porque fica uma dúvida: Se o Brasil tivesse ganhado, será que esse discurso seria o mesmo? O José Trajano, na ESPN, detonou o técnico Felipão depois da Copa do Mundo dizendo que foi uma escolha errada da CBF. Mas, quem o acompanhava durante a era Mano Menezes, via que o próprio defendia a saída do Mano e a chegada do Felipão.
Ao contrário do que esses jornalistas dizem, o que fez o Brasil tomar de 7 a 1 da Alemanha não foi a falta de investimento na base, a falta de fair play financeiro ou o desinteresse dos torcedores em jogos de estaduais. O que fez o Brasil perder foi, pasmem, o time! Embora muitos não tenham gostado da "desculpa" dada pelo Felipão, o apagão, nesse jogo, a falta de experiência de muitos jogadores em copas e algumas decisões erradas tomadas pelo Felipão no dia foram o que realmente contribuíram para o resultado desastroso.
Talvez se jogadores como o Ronaldinho e o Robinho tivessem sido convocados, os alemães não iriam com tanta confiança pra cima deles. Jogadores lentos como Hummels e Mertesacker e o Boateng que é um cavalo, com certeza, iriam com mais respeito pra cima dos dois citados, pois os dois são conhecidos por sua habilidade com a bola nos pés e por não terem medo de ir pra cima da marcação, mesmo que estejam em má fase.
Não foi culpa das categorias de base. Todos os jogadores dessa seleção passaram pelas categorias de base de times brasileiros e a maioria teria lugar em qualquer equipe. Ainda são jogadores respeitados em seus times. David Luis, Neymar, Oscar, Hulk, Dante, Daniel Alves, Paulinho etc. A surra que o Brasil levou no jogo não significa que eles sejam maus jogadores. Esses jogadores nunca haviam atuado juntos antes em uma Copa do Mundo (a Copa das Confederações não conta, pois, como diria o Daniel Furlan, é a "Taça Guanabara do mundo"), ao contrário dos alemães.

"A Copa das Confederações é a Taça Guanabara do mundo." - Daniel Furlan
Ele fez uma piada, mas não é muito distante da realidade.

A diminuição da torcida nos estádios não teve nada a ver com o resultado. Além disso, o que realmente diminui a torcida é a falta de segurança nos estádios aliado com a praticidade de se comprar o jogo em pay-per-wiew. As estatísticas dizem que, a cada ano, a arrecadação com a assinatura dos pacotes Premiere do Brasileirão vem crescendo. E, ultimamente, pode se notar que são nos entornos dos estádios onde estão acontecendo as brigas. E outra, se média de público em campeonato nacional influenciasse em desempenho de seleção, a Costa Rica nunca chegaria às quartas de final, sendo desbancada "apenas" pela Holanda e nos pênaltis.

Comemoração da seleção da Costa Rica após a vitória contra a Grécia nas
quartas de final.
Então, onde essa tal MP do Futebol avança? A MP do Futebol, se for obedecida (pois já conhecemos como são os times brasileiros), será um avanço na política dos clubes, e só. E não adianta tentar criar relações disso com o jogo de futebol em si, pois não adianta nada obrigar um cara a gastar pouco, tem que criar políticas que façam com que ele invista com responsabilidade no próprio time - e não se trata de categorias de base ou futebol feminino. Caso contrário, o Brasil nunca deixará de ser uma montadora, revendedora e mecânica de jogadores de futebol.
O Bom Senso F.C. merece os parabéns por essa vitória conquistada. Mas essa é apenas uma das muitas conquistas que eles devem buscar. Se você quer melhorar o jogo de futebol, quer fazer com que o Brasil volte a ser o País do Futebol, precisa repensar o jeito de acompanhar os campeonatos e, principalmente, desbancar os saudosistas. Saudosismo é doença, é viver do passado e não aceitar as mudanças que o nosso mundo globalizado nos impõe.
Antigamente era fácil ter jogos às quartas às 22:00 e domingos às 16:00, pois o Campeonato Brasileiro girava em torno o Eixo Rio-São Paulo e a Taça Libertadores não era algo tão almejado. Hoje em dia isso precisa mudar, o calendário está cada vez mais apertado, as viagens cada vez mais longas e as condições de jogo, horríveis. E não venha com essa de "eles são pagos pra jogar futebol", esse pensamento, além de desumano, é algo que mostra a ignorância do torcedor brasileiro.
Se lá na Europa os jogos são às 16:00 do horário local, não interessa. Lá na Europa o sol começa a ir embora por volta das 15:00. Aqui na América do Sul é diferente.
Os estaduais precisam diminuir, aliás, deviam mesmo era acabar, mas, os saudosistas usam a causa dos times pequenos. Dizem que eles precisam disso pra gerar renda. Só que muitos times que não disputam sequer a Série C só jogam os estaduais. Não seria melhor criar mais divisões?
A arbitragem precisa ser profissionalizada, árbitros cada vez mais despreparados andam apitando jogos por aí. E assumem postura autoritarista. No ano passado foram registradas várias queixas de jogadores que foram xingados pelos árbitros. Nesse ano mesmo, pelo Campeonato Mineiro, um jogador acusou um árbitro de xingá-lo de macaco durante uma partida entre URT x Vila Nova. Mas, o saudosismo impõe que essa profissionalização é apenas um gasto fútil. Eles dizem que é legal uma "polêmicazinha" no jogo (deixando a dissertação de lado um pouco, eu acho que a arbitragem não deveria nem ser a autoridade máxima nas partidas, existem lances que são criminosos, absurdos e o árbitro não passa nem por uma bronca).

Confusão no jogo URT x Vila Nova/MG. Toda vez que a polícia faz o escudo em volta do árbitro, tenha certeza, é porque ele fez coisa errada. E notou como estão ficando cada vez mais frequentes esses escudos?

Reparou que o discurso dos saudosistas lembra o que os jornalistas que citados acima defendem?
O primeiro passo foi dado e o Bom Senso F.C. merece os parabéns. Agora é torcer para que a MP seja respeitada, que a luta continue e que os saudosistas sejam cada vez menores na mídia brasileira.

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OBS: Durante a postagem do blog eu procurei a foto do repórter Maurício Cardoso, da Revista Placar, mas, não achei em lugar nenhum. A menos que o próprio tenha pedido para não aparecer, é uma sacanagem a revista não divulga-lo, não acham?

quinta-feira, 12 de março de 2015

Crise


O blog fez dois anos no último dia 11 e ninguém aqui lembrou. Nem eu, que fiquei ocupado demais cuidando de outras coisas - entre as quais um grupo de WhatsApp - para lembrar que não se esquecem aniversários nem no Facebook. Será que este blog está passando por uma crise de representatividade?

Se for, não será o único. Os blogs estão indo mal. A repercussão está diminuindo, a audiência é sempre baixa e as redes sociais já satisfazem nossa necessidade de expressão. Escrevendo em meu Facebook sobre o fim da TV, um assunto que me interessa, obtive mais interações do que em dois anos de UM POUCO DO NOSSO. No mais, como observou Pedro Doria n'O Globo, "para fazer grandes audiências, hoje, blogs precisam curvar-se ao que é viral nas redes sociais. Viral é tudo aquilo de fácil assimilação. É o sensacional. É o que causa impacto. É a emoção rápida: pode ser indignação, pode ser um riso. Mas é inevitavelmente raso".

A crise atingiu a blogosfera? Com certeza, o que não significa que ela seja a nova imprensa escrita. Os blogs vão continuar vivos, mas serão muito mais irrelevantes do que eram há dois ou três anos. E é por isso que, cada vez mais, blogs como o Esporte Fino, o Entenda os Homens e este que você está lendo assumem cara de portal. São portais com conteúdo de blog. Talvez um pouco de BuzzFeed...

Crise nos blogs e crise no impresso ao mesmo tempo. A crise nunca foi tão citada e alimentada quanto nos dias de hoje, não surpreende estar em dois veículos tão distintos até mesmo em idade. A crise no impresso fecha redações, a crise nos blogs condena ao abandono inúmeros endereços de web, a crise na publicidade ameaça rádios e TVs. É uma crise geral no jornalismo que ocorre no meio de uma crise econômica, tanto na Europa quanto no Brasil da crise da Petrobrás e da crise de representatividade da política. Há ainda uma crise de sonegação mundial via HSBC e uma crise no Oriente Médio da ISIS, sem contar na menos importante crise do futebol brasileiro. Até os âncoras entraram em crise - primeiro Brian Williams, depois Bill O'Reilly e agora já temos indícios de que César Tralli foi condecorado injustamente no caso Suzane Von Richtofen.

A crise mostra suas garras hoje (13), quando teremos as manifestações "em defesa do Brasil e da Petrobrás" convocadas por setores do PT e da CUT - que, dizem por aí, vai aproveitar pra botar na mesa a questão dos direitos trabalhistas. Dois dias depois tem a tão falada manifestação pelo impeachment de Dilma, convocada por movimentos "contra a corrupção".

Enquanto petistas e tucanos, enrustidos ou não, brigam pra provar que foi o outro quem começou a radicalização, o Brasil vai dando passos confusos, ora na direção progressista, ora na direção neoliberal. Enquanto já tem ministro defendendo a "revisão" da valorização do salário mínimo, tem ministro indo atrás de pequenos agricultores para discutir formas de melhorar a produtividade. Os passos confusos do governo brasileiro não dão espaço para a economia crescer. Nem para a inflação baixar.

A crise política afeta toda a América Latina, em especial Argentina e Venezuela, mas também o México - único governado pela direita. No Brasil, a radicalização ganha contornos humorísticos, como os blogueiros progressistas sendo acusados de "golpistas" e até de "machistas" por criticarem a austeridade do governo Dilma II. Equivale aos direitistas alucinados acusando a Globo de "comunista" e "petista".

Mas o que mais chama a atenção é o anacronismo do PT em atribuir os protestos ao "golpismo" das "elites" que querem "derrubar um governo democraticamente eleito" com o apoio de uma "classe média reacionária". O PT parece não ter entendido o recado, não do "panelaço" em si, mas de sua repercussão e aceitação pela classe média.

O PT não entendeu a crise, nem o PSDB, embora esse último saiba muito bem como se aproveitar dela em prol de seus interesses. O que estamos assistindo no Brasil é uma crise de representatividade: o povo não se reconhece na política mais. Antes a crise se restringia ao Congresso, agora chega ao poder executivo atingindo presidentes e governadores - Beto Richa (PSDB) enfrentou protestos recentemente no Paraná. Uma crise dessas pode desaguar num caos político e social nunca dantes navegado. E um golpe pode ser o mínimo a que poderemos chegar.

Enquanto o Brasil enfrenta a radicalização de uma crise, a Europa tenta sair de outra. Depois do Banco Central Europeu intervir por meio da compra de títulos, a Syriza venceu as eleições gregas e governa com o apoio de um partido de direita. Até agora, o ainda novo primeiro-ministro grego Aléxis Tsípras não conseguiu acabar com a austeridade, mas já obteve importantes vitórias junto à troika - como é conhecido o comitê formado pelo BCE, o FMI e a Comissão Europeia que negocia o resgate financeiro à Grécia.

Três quartos dos gregos querem tanto o fim da austeridade quanto a permanência da Grécia na Zona do Euro, ainda que as duas coisas possam ser incompatíveis. A Grécia administra a crise como pode. E a saída grega pode determinar o futuro da Europa, já que a crise da dívida grega é grave e afeta o velho continente como um todo. Além disso, há a possibilidade de reviravolta parecida ocorrer na Espanha, através de uma possível vitória do Podemos.

A incerteza paira em todo o planeta. Recentemente, a conceituada publicação The New Republic foi vítima de um passaralho após um desentendimento entre jornalistas e novos donos. Mais um capítulo de uma crise que fez a Time Warner se livrar da revista Time, cuja editora foi separada do conglomerado e agora vende ações na bolsa separadamente. Coisa parecida fez Rupert Murdoch ao dividir seu conglomerado em dois: um para TV e cinema e outro para os jornais.

A crise da Time e da New Republic também deu as caras por aqui. A Editora Abril, outrora símbolo de um imponente império midiático, coleciona hoje demissões e fechamentos de títulos. Os rumores são cada vez mais fortes: vão fechar a Playboy?  A Info vai sobreviver como revista digital? Até que ponto será possível manter o Grupo Abril como segundo maior grupo de mídia do Brasil, atrás apenas da Globo? A Globo, como rede de TV aberta, também não estaria com os dias contados?

Uma realidade nova imposta por um paradigma novo que tentamos enxergar com o mesmo olhar do paradigma velho. É assim na política, na economia, na mídia, nos blogs. No chinês, a palavra "crise" é composta por dois caracteres: um significa "perigo" e o outro "oportunidade". Será que, no meio desta enorme mudança de paradigma nós não poderíamos enxergar as crises sob a ótica da oportunidade?

O UM POUCO DO NOSSO, por exemplo, quer superar a crise dos blogs com criatividade e novidades para 2015. Quem mais estará disposto a  tentar?

domingo, 1 de março de 2015

Deixa eu adiantar a próxima capa da Veja


Fala pessoa (não estou mais colocando no plural porque é só um que lê no computador mesmo)! A partir de agora os resumos da semana vão demorar mais porque começaram minhas aulas na faculdade. Muito legal essa informação hein?
E a minha primeira semana na faculdade foi muito legal, mas, chega de falar de mim, vamos falar das notícias mais importantes da semana na minha opinião. Porque o blog é meu!

Sobre a greve dos caminhoneiros, senadores dizem coisas que a Veja gosta de ouvir.

Não sei se você tá meio antenado com o que está acontecendo nas estradas e rodovias brasileiras ultimamente, mas, está acontecendo uma greve de caminhoneiros. A greve começou porque, segundo eles, o preço do diesel subiu e o preço dos fretes estagnou ou não subiu tanto, acarretando em prejuízos. Eles estão bloqueando as rodovias e paralisando várias companhias que dependem de suas entregas.
Aí, nesta quarta-feira (25), o governo tentou um acordo. Prometeu sancionar a Lei dos Caminhoneiros, prorrogar por mais 12 meses o pagamento de caminhões comprados no programa Procaminhoneiro e a criação de uma tabela referencial de frete. Porém, não adiantou. Os caminhoneiros ainda queriam a redução dos tributos sobre o diesel.
Aí, na quinta-feira (26), o Ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, anunciou uma multa de R$ 10 mil por hora para os caminhoneiros que continuarem bloqueando as rodovias. Porém, 6 estados brasileiros continuaram a sofrer com a paralisação.


Mas apareceu uma notícia esses dias que deixa qualquer jornalista da Veja com um sorriso de orelha a orelha. Os senadores Valdir Moka (PMDB-MS) e Blairo Maggi (PR-MT), ambos da base aliada, afirmaram ter avisado o governo sobre a greve três dias antes. Mesmo assim, o governo não deu tanta importância e só tomou uma providências quando a paralisação atingiu 13 estados.
Aí você sabe como um jornalista da Veja age com uma notícia dessas. O resultado com certeza será uma capa parecida com essa (o negócio o Barrichello eu inventei).

Depois de esmiuçada, a "alma" de Eike Batista começa a ser distribuída.


Nesta quarta-feira (25), o Ministério Público Federal do Rio de Janeiro (MPF-RJ), por meio da Procuradoria Regional da República da 2ª Região (PRR2), enviou ao Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF2) um parecer favorável ao afastamento do juiz Flávio Roberto de Souza (ufa, esse não tem sigla), da 3ª Vara Criminal Federal do Rio de Janeiro, da condução dos processos contra o empresário, homem de ovo falso e pai de moleques problemáticos nas horas vagas, Eike Batista.
Entendeu o parágrafo acima? Fica triste não por que eu também não entendi. Mas, vamos tentar entender a história.
O juiz da 3ª Vara Criminal do Rio de Janeiro, Flávio Roberto de Souza, que estava tomando conta do caso do Eike Batista (que disse que ia "esmiuçar a alma" de Eike), foi pego dirigindo um dos carros apreendidos pela polícia no caso. Mas, não parou por aí. Além de ser pego dirigindo o Porsche Cayenne, ele também admitiu ter pego o Range Rover do Thor Batista e também deu a um vizinho outro carro da família e o piano de cauda.



Na quinta-feira (26), a corregedora-nacional de Justiça, Nancy Andright, confirmou a decisão, porém, o juiz continuará exercendo a função.O mais engraçado é a justificativa que o juiz deu à ministra. Vários juízes fazem igual.
Qual deve ter sido a resposta da ministra ao juiz? "Quer dizer que se eles pularem da ponte, você vai junto?" ou "Por que você não disse isso antes?".
Quem está contente com isso são os advogados do Eike, já que eles afirmavam que o juiz perseguia o empresário com algumas declarações, como aquela do "esmiuçar a alma". Mas, convenhamos, se eu posso pegar os bens apreendidos pela polícia pra mim, eu ia mandar apreender até as namoradas do Thor Batista. Imagina só, hein?

E, falando em namoradas do Thor, seus apreciadores podem ser úteis.


Sabe aquele site que passa coisas legais na internet, o Pornhub? Pois é, eles estão entrando no ramo da energia. Como? Com o Wankband.


O Wankband é uma pulseira que foi desenvolvida para gerar energia na hora que o cara está "amando a si mesmo" na frente do computador. É isso aí amigo, agora sua vida pode ser útil.
O Wankband funciona com um peso dentro da pulseira que, conforme o movimento do vai-e-vem ou sobe-e-desce, gera energia cinética (energia de movimento). Essa energia é transformada em energia elétrica e pode ser usada pra recarregar tablets, notebooks, celulares, smartphones e câmeras.
Não acredita? Eis aqui um vídeo do Pornhub explicando, mas não se preocupe, não tem nada aqui que você não tenha visto no Pânico (o vídeo está em inglês, mas, o closed caption está disponível. Para traduzir as legendas, clique na engrenagem, depois em "Traduzir legendas" e selecione o Português):


Esta ideia é genial, não? E o rebuliço nas redes sociais também chama a atenção. Algumas pessoas mandam comentários como "o que vai ter de nego virando o Super Choque não tá escrito", "prazer, pode me chamar de Itaipu" e "quero ver meu smartphone descarregar agora".
Dizem até que a Dilma tá pensando em implantar um plano de bolsa para pagar esses caras que vivem se tocando na frente do computador. A dificuldade dela é achar um nome.
Ah, também funciona com mulheres, viu?

Agora, se você me der licença, eu tenho que comprar uma Wankband.

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sábado, 14 de fevereiro de 2015

Bem na semana do carnaval, descobriram que o ovo do Eike Batista é falso!


Fala galera! Onde você vai pular o carnaval hein? Em São Paulo, junto com as torcidas organizadas, no Rio de Janeiro, tomando cuidado com as balas perdidas, em Salvador, pra aprender as vogais com a turma do axé, ou você vai sair do Brasil pra enfrentar um frio de -14° C em Nova York?
Eu vou passar o carnaval trabalhando, porque es empresas param, mas as declarações da DIRF, do Simples e da DIRPJ... Até parece que eu tenho folga.
Nesta semana aconteceu de tudo. Explodiu um navio da Petrobras, teve invasão de funcionários públicos na Câmara do Paraná, o novo presidente da Petrobras assumiu, a torcida do Once Caldas fez referência ao Holocausto e a Globo nem percebeu, o governo ficou com medo de uma corrente do WhatsApp, tem um ex-funcionário do HSBC na Suíça caguetando um monte de esquema, descobriram que o Eike Batista tinha um ovo falso, o Ivanovic mordeu um cara, e o mais importante, a mulher do Geraldo Alckmin disse que não está mais lavando o cabelo todo dia.
Cara, como uma primeira-dama não lava o cabelo todo dia? Isso é um absurdo! Os paulistas estão com a pressão da água baixa justamente pra garantir o banho nosso de cada dia dos mais afortunados, e, ela não aproveita!
Enfim, dá uma olhada aí no que eu consegui colocar no resumo da semana, porque eu não vou colocar tudo isso aí não, senão, nem você aguenta ler.

No carnaval, a polícia descobre que apreendeu um Kinder Ovo fantasiado na casa do Eike Batista.


ovo do eike batista


Diz aí, a imagem acima te chamou a atenção, não? Hehehe, mas, não é desse tipo de ovo que eu to falando, é desse aqui:

ovo faberge

Esse é um ovo Fabergé, é uma joia que era muito popular entre os czares russos, mas, eu não vou me aprofundar mais porque eu não entendo bulhufas disso.
Acontece que no dia 6 de fevereiro a polícia, tentando apreender bens do Eike Batista para ele pagar a fortuna do Grupo X, apreendeu esse ovo que foi avaliado em 20 milhões de dólares.
Eles fizeram a festa, era só fazer um leilão e tá beleza! Então, eles levaram para um especialista pra saber qual ia ser o lance mínimo. Porém, nessa sexta, dia 13, o especialista informou que a joia é falsa e custa em torno de R$ 65,00.
HUAHUAHAUHAUAHUAHAUHAUAHUAHUAHAUAUHAHUA!!!
Tenho nem comentários, até Kinder Ovo vale mais que isso!
Eu só me pergunto: o Eike Batista foi enrolado quando comprou, comprou sabendo que era falseta ou comprou um falso pra ele fugir com o verdadeiro? Tenha em mente que existem poucos ovos Fabergé no mundo.


Descobriram que o Schumacher ama mais o Brasil do que se esperava.


Lá na Suíça o negócio tá feio. O banco HSBC está passando por uma investigação desde 2008 chamada de Swiss Leaks. Na época, um ex-funcionário do banco, Helvé Falconi, resolveu jogar merda no ventilador (provavelmente por pirraça) e denunciou que o banco abria contas secretas na Suíça e dava consultoria aos clientes sobre como burlar as leis de seus países (tá vendo como se faz, Itaú?).
O banco soltou uma relação de clientes para a polícia e lá estava o nome de quem? Se você respondeu Paulo Maluf, você errou! O negócio dele é Ilhas Cayman. Estavam lá Fernando Alonso e Michael Schumacher. Mas a lista não para por aí, David Bowie, Tina Turner, Phil Collins, John Malkovich, Joan Collins, Christian Slater, Valentino Rossi, Heikki Kovalainen, Flavio Briatore, Diego Forlán, o presidente Horacio Manuel Cartes (Paraguai),o Rei Abdullah II (Jordânia) e o Rei Mohammed VI (Marrocos) também estão lá


michael schumacher


Mas tem brasileiros nessa lista? É lógico, onde tem safadeza, tem brasileiro (não é à toa que o Panico faz sucesso)! Inclusive, essas contas do HSBC foram usadas no esquema de corrupção da Petrobras. O Brasil foi apontado como o nono país que mais movimentou dinheiro até 2007. Foram 7 bilhões de dólares em 6606 contas. Dos brasileiros, o nome que se destaca é o do banqueiro Edmond Safra, do Banco Safra.
Era pra ter mais um nome lá, mas, quando Rubens Barrichello ia abrir a conta dele, a polícia já tinha baixado lá. É que ele ainda achava que era o Bameirindus.
Agora eu me pergunto (ao contrário do Marcelo Resende): Por que a imprensa brasileira não está tocando no assunto?


O Governo acredita em correntes do WhatsApp



corrente caixa


Nessa sexta, dia 13, o Ministério da Fazenda soltou uma nota um tanto quanto curiosa. Lá dizia que "não procedem as informações que estariam circulando pela mídia social de que haveria risco de confisco da poupança ou de outras aplicações financeiras".
Pera aê, pera aê, pera aê! Confisco de poupança? Mídia social? Que merda é essa?
Acontece que estava rolando por aí uma corrente no WhatsApp e no Facebook (sim, uma CORRENTE) dizendo que a Caixa Econômica Federal iria confiscar as poupanças de seus investidores na terça de carnaval, dia 17. Aí, quando isso chegou no Whats da Dilma, como você viu acima, o governo ficou com medo que acontecesse algo parecido com o que aconteceu em maio de 2013, quando uma corrente dizia que o governo iria cancelar o Bolsa-Família fazendo com que milhares de pessoas que acreditam em correntes fossem sacar o dinheiro.
A pessoa que criou essa corrente deve ser um gênio, já que fez com que o Ministério da Fazenda soltasse uma nota dessas na imprensa. Façamos o seguinte, vamos analisar:


corrente caixa

Começando por quem está promovendo: a "Federação dos Bancos do Estado Brasileiro". O que eu posso dizer? Gênio! Ele descobriu a existência de uma federação de bancos, que não é a FEBRABAN (Federação Brasileira de Bancos), e que manda mais do que o governo quando o assunto é conta poupança. Nem eu sabia que a poupança é controlada por uma organização secreta!
Outro detalhe: o conhecimento da língua portuguesa. Ele abriu as aspas no momento certo e não esqueceu de colocar o espaço entre a letra e as aspas.Tá certo que ele cometeu alguns erros de concordância, mas, fez questão de colocar o erro no caps lock para mostrar que errou (no caso do "as contas POUPANÇA"). Isso se chama humildade!
Agora o motivo: "motivo Economico do Brasil". Destacando de novo o conhecimento da língua portuguesa do indivíduo, com a exclusão do acento circunflexo na palavra "economico". Ele sabe que órgãos públicos não precisam dar justificativas mais pormenorizadas quando tomam medidas drásticas com relação à economia. Motivo econômico do Brasil, qual? Não interessa!
E pra finalizar, a "CAIXA ECONOMICA DO BRASIL". Não é a Caixa Econômica Federal, é um banco secreto com um nome parecido.
Finalizando a análise, chego à conclusão que ainda bem que o Ministério da Fazenda soltou essa nota, senão eu ia sacar (se bem que eu não tenho poupança na Caixa).

Chega né? já escrevi demais. Espero que você TENHAM gostado (viu? eu fiz igual o cara da corrente).

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