dezembro 2014

quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

2014 em Poemas - Esporte


No nosso blog eu dei uma olhada
E vi poemas postados há um tempão.
Véi, tinha muita coisa errada.
Alguns versos muito sem noção.

Depois lembrei que fui desafiado.
Mas não quero escrever, acho tosqueira.
Não tenho nem um tema fixado.
E é meio besta essa brincadeira.

Falar do que? Da beleza da natureza?
Isso já virou um clichê.
De uma menina japonesa?
Já falaram disso, e por quê?

Você é o que faz os resumos, né?
Me disse um colega achegado.
Faz um sobre esse ano, vai que dá pé.
Ah cara, acho que você está enganado.

O tema 2014 é muito complexo.
E também, vou falar do que?
Isso está me deixando perplexo.
Só falaram de Copa e reeleição do PT.

E falar sobre esporte esse ano tá feio.
Aqui, futebol é o que move nossa nação.
E como, na Copa, nossa seleção levou bem no meio,
É melhor deixar esse assunto pra um alemão.

Nem do Brasileirão que passou na TV
O assunto pode ser posto num poema.
Já que um tal de STJD
Estragou nosso campeonato sem nenhum problema.

E o centenário do Palmeiras? – Ele me perguntou.
Você tá falando de zuera, né seu safado?
Nesse ano o time não se encaixou,
E ainda quase foi rebaixado!

Cem anos também fez o Paysandú.
Mas, tirando sua torcida, quem mais se interessa?
Não é desrespeitando o Papão da Curuzu,
Mas quem não é da primeira, não faz parte da peça.

O futebol carioca foi quase decepção.
Pelo catarinense foi ultrapassado.
O Flamengo só acordou depois de um chacoalhão
E o Botafogo foi rebaixado.

Mas uma hegemonia quase surgiu.
No Brasileirão, o campeão foi o Cruzeiro.
E ele jogou a final da Copa do Brasil,
Mas quem ganhou foi o Atlético Mineiro.

Na Libertadores, um milagre se deu.
Milagre no sentido de piada.
San Lorenzo, o time do Papa, venceu.
Como se isso interferisse na jogada.

Na UEFA, o Real Madrid detonou.
Como se alguém já não soubesse.
O Cristiano Ronaldo se achou,
Mas ele não é melhor do que o Messi.

E no Mundial, o óbvio aconteceu.
O San Lorenzo levou um baque.
O Real Madrid, com méritos, venceu.
Mas o Auckland City merece um destaque.

Ah, fala da Copa, até que foi legal.
Nem tudo deu errado, tem assunto pra danar.
Cara, o Brasil se deu mal.
E aconteceu muita coisa que não dá pra se orgulhar.

Já começou com a Cláudia Leitte e aquele “Oh, Eh, Ah”
Que musiquinha irritante!
Parece Chiclete com Banana, não dá!
Ou então coisa de vendedor ambulante.

Seleções vistas como favoritas pela moçada,
Na primeira fase saíram, que horror!
A Espanha, na estreia, levou uma paulada.
Com o Van Persie fazendo um gol de peixinho voador.

Portugal, pra mim, sempre foi enganação.
Aquele Cristiano Ronaldo só tem sorte.
A Itália e a Inglaterra precisam de renovação.
Pois perderam pra Costa Rica no grupo da morte.

E o Brasil, na primeira fase, já demonstrava
Que só com o Neymar o time não ia pra frente.
Pois, contra o México, enquanto jogava,
Mostrava suas fraquezas pra muita gente.

A partir daí foi só o abismo.
Contra o Chile, a trave nos salvou.
Nos pênaltis, o Júlio César até que mostrou heroísmo.
E o Thiago Silva, sentado numa bola, chorou.

N­o psicológico a culpa foi jogada.
Eles estão muito ansiosos – disse Felipão.
Uma psicóloga foi contratada,
Mas, não era esse o problema da seleção.

Contra a Colômbia o Brasil queria mostrar.
Até que num lance, um tal de Zuñiga,
Deu uma joelhada bem nas costas do Neymar.
Foi sem intenção – disse o zagueirinho de uma figa.

Contra a Alemanha foi a semifinal.
E o Brasil sem seu principal jogador.
Sete a um pra eles, foi fora do normal.
Foi só um apagão – minimizou o treinador.

A disputa da terceira foi apática.
Mais três a zero da Holanda, fora o show.
E disseram que a Costa Rica foi a seleção simpática.
Simpático foi o Brasil por tanto gol que levou.

Na final, Alemanha e Argentina.
A Alemanha foi campeã depois de um jogo disputado.
E na Copa, termina a nossa sina.
E, como prometido, o Maracanazo foi superado.

Mas ainda teve a repercussão.
Depois de uma carta inventada, sem eira nem beira,
Todo mundo xingou tanto o Felipão,
Que demitiram ele e o Parreira.

É, a Copa não foi uma boa memória.
Mas não tem só o futebol nesse ano de ostracismo.
E o que eu ponho nessa história?
Que tal automobilismo?

E eu vou falar do que? Felipe Massa?
Esse ano o Hamilton foi campeão.
Eu nem acompanho mais essa desgraça.
Parece videogame, é só apertar um botão.

Já na Stock Car deu Barrichello.
Ele foi mais rápido que alguém?
Essa Stock Car deve dar pra correr até de chinelo.
Se Você não sabia disso, você tá pior que eu hein?

É meu amigo, tá ruim pra sair com esse tema.
Por que você não tenta o campeonato de surfe?
O que o Medina ganhou? Não sei por num poema.
Pra mim as regras são tão claras quanto as do turfe.

Que ele ganhou, legal. Pro Brasil foi inédito o fato.
Mas pra eu falar disso é arriscado,
Já que eu nem entendo, nem vi o campeonato,
Não sei se ele deu um show ou se ganhou apertado.

Foi quando, no meio da discussão,
Percebi algo esquisito, e até engraçado.
Aí, não aquentei e fiz uma indagação
Pra esse meu colega achegado.

Cara, tem algo estranho enquanto estamos falando.
E o que é tão estranho, amigão?
Tudo o que nós falamos está rimando.
É mesmo! Que estranho, não?

É melhor eu ir antes que fique mais complicado.
Mas não desiste do poema não.
O pessoal pode achar bem bolado.
Você ainda não parou de rimar, amigão.

Em 2014 o esporte foi assim.
Mas minha cabeça está doendo, parece um nocaute.
E como meu dia está chegando no fim
Pra relaxar, vou jogar The Simpsons - Tapped Out.

sábado, 20 de dezembro de 2014

E de repente, o país do surfe



Gabriel Medina protagonizou um feito inédito: ele foi o primeiro brasileiro a vencer um mundial de surfe. Ficou em segundo na etapa de ontem, mas liderou o ranking geral. O próprio disse não acreditar ter vencido nomes como Kelly Slater e Mick Fanning. "Estou muito feliz de ter disputado o título contra Mick e Kelly. Eles me inspiraram desde criança. E hoje é o melhor dia da minha vida", declarou o mais novo ídolo do esporte nacional. Medina tem todos os méritos por sua brilhante vitória. Mas como não entendo nada de surfe, simplesmente não posso dizer o que fez dele um surfista campeão.

E é bom que se diga que soa quase uma heresia não entender de surfe nestes tempos de orgulho verde-amarelo ligado às ondas. Nas últimas semanas, pipocaram inúmeros neo entendidos no assunto nas redes sociais e o "vai Medina!" foi um grito de torcida ecoado com frequência quase futebolística nos últimos dias. Um estrangeiro que venha ao país neste momento deve imaginar que o surfe é um esporte tão popular quanto o futebol.

Medina é o nosso orgulho, o nosso símbolo de vitórias depois do sofrido 7x1 da fatídica semifinal contra a Alemanha. O Brasil festeja o sucesso em um esporte que passou a acompanhar há três semanas ou menos. É a nossa vitória! Medina é nossa redenção.

Redenção que já veio do MMA, com Anderson Silva, o Spider. Ou do vitorioso time brasileiro de vôlei, do iate de Torben Grael e Robert Scheidt, e principalmente de Ayrton Senna do Brasil, símbolo de uma vitoriosa geração da Fórmula 1 que deu lugar à "fracassada" geração de Rubens Barrichello. Nossas esperanças também renasceram com Guga, Daiane dos Santos, Popó,... Essa lista vai longe!

Tudo terminou do mesmo jeito: sem um ídolo capaz de trazer-nos vitórias, o esporte é sempre abandonado à sua própria sorte até que um outro Senna, Spider, Torben, Guga ou Daiane apareça para nos dar novas alegrias. Em cada ano bissexto sempre ouvimos nossa lista de "esperança de medalhas" para os Jogos Olímpicos. Essas esperanças dão seu melhor, ficam entre os melhores, ganham um bronze e saem como fracassados. É sempre a "derrota do Fulano", em contraste com a "vitória do Brasil". Como disse Rodrigo Borges, no Esporte Fino, "A derrota é do outro, a vitória é nossa".

Aqui neste blog, foi me atribuído erroneamente o questionamento que segue: "O brasileiro gosta mesmo de esporte?". Foi o mesmo Rodrigo Borges, no mesmo Esporte Fino, quem questionou nosso comportamento como torcedores esportivos. Diz ele que os "argentinos são apaixonados por esportes. Por vários. Futebol, tênis, basquete, automobilismo e rúgbi são algumas das paixões dos vizinhos. Paixões mesmo. Amam o Mundial de Rali sem que haja um argentino no WRC". Falta isso no Brasil? "Se Guga fosse o sujeito carismático e gente fina que é, mas nunca tivesse passado do 30º lugar do ranking, seria ele tão idolatrado? Tivesse perdido as três finais de Roland Garros que disputou, seria o ídolo que é ou seria sacaneado como eterno vice, seria motivo de chacota em programas humorísticos?"

Mauricio Cardoso, jornalista da "Placar" dos anos 80, é autor de uma frase que deixou a própria redação da revista perplexa: "brasileiro não gosta de esporte; brasileiro gosta de ganhar". O tempo mostrou que ele estava certo: o brasileiro só gosta de ganhar. Ou algum dos neo entendidos em surfe estaria acompanhando o Mundial se Medina estivesse, digamos, em 7º? Como diria o Paulinho Nogueira, do DCM, quem acredita nisso acredita em tudo.

Mesmo no tão querido futebol vigora essa lei da vantagem esportiva. A audiência do Corinthians na Globo, por exemplo, caiu bruscamente: era o time que mais dava audiência no país;  hoje é o quarto time mais visto de São Paulo. Em 2013, Fernando Sormani já observava que a frase de Maurício Cardoso explicava as baixas nos estádios: "De um modo geral, se o time está bem, o estádio lota; se está mal, fica às moscas". Alguém tem alguma dúvida disso?

Creio que isso se relaciona, de alguma forma, com nossa cultura "pra frente Brasil" que se impôs durante a ditadura e virou regra de nossas transmissões esportivas via Galvão Bueno e imitadores. Seja qual for o motivo, o fato é que nosso querido Gabriel Medina está hoje na posição em que muitos atletas já estiveram. Amanhã seu destino será o ostracismo em que seus antecessores estão, basta ganhar um bronze no próximo Mundial, talvez até uma prata. E enquanto os atletas de outros esportes reclamam da falta de incentivo e patrocínio, deixo-lhes com a amarga realidade de que isso não vai acontecer. Lei da oferta e da procura: se ninguém gosta de esporte, por que eu vou investir?

Parabenizo Medina por sua dedicação e seu sucesso ao bater grandes nomes do surfe mundial e se tornar o nº 1. E desejo a ele toda sorte do mundo quando os neo entendidos em surfe o abandonarem à própria sorte à espera do novo Senna. Pra frente Brasil!