setembro 2014

domingo, 28 de setembro de 2014

Contrastes


Marina Silva diz que é favor do casamento igualitário e muda de opinião depois de um dia de discussões sobre seu programa.

Eduardo Jorge defende pautas progressistas depois de se aliar a governos conservadores, tendo sido inclusive secretário de José Serra.

Dilma Rousseff parte para o ataque contra Marina Silva quatro anos depois de se dizer vitimada por ataques caluniosos de José Serra.

Aécio Neves fala pelos cotovelos da corrupção do PT mesmo tendo sido o PSDB de Minas quem apresentou Marcos Valério ao mundo político.

Luciana Genro bate em todos os candidatos e se cala diante de declarações de Levy Fidelix quando esse ironiza seu programa de governo,

Por que a política brasileira tem que ser esse convite à contradição?

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

A batalha final já começou


Dilma acusa Marina de ser um poço de contradições, Marina diz que Dilma faz covardia ao atacá-la. Os petistas apontam as "alianças espúrias" de Marina, o PSB manda tirar o site Muda Mais do ar. Nos debates, Dilma e Marina já duelam diretamente. No horário eleitoral, mesma coisa. É a mão de Lula contra a mão de Eduardo Campos. Faltam 13 dias para as eleições e a batalha final entre Dilma Rousseff e Marina Silva já começou.

Desde que o tucano Aécio Neves foi simplesmente descartado pelos tucanos de São Paulo - candidato a senador, José Serra aparece mais do que ele -, Marina começou a ameaçar vencer a eleição no segundo turno contra Dilma. Com Aécio em terceiro plano, Dilma passou a atacar a ex-ministra do Meio Ambiente mais diretamente do que ao candidato do histórico rival PSDB. Marina passou a reagir aos ataques e desde então estamos assistindo uma sequência de acusações, discussões e conspirações entre petistas e marineiros.

Sempre foi óbvio que Aécio era uma ameaça muito menor ao PT. A rejeição ao PSDB fora de São Paulo e a impopularidade marcante ao governo FHC eram uma espécie de caminho da segurança. No entanto, a rejeição ao nome de Aécio em São Paulo fez de Marina favorita ao segundo turno. E Marina é muito mais ameaçadora do que qualquer tucano.

Marina está fora do círculo de rejeição tucana. Seu nome não pode ser associado imediatamente a FHC, ainda que seja associado ao neoliberalismo (FHC não é impopular por ser neoliberal). Já trabalhou no governo Lula, saiu pra disputar a presidência pelo PV. Perdeu, foi atrás de criar seu próprio partido, a Rede Sustentabilidade. Sem tempo de se candidatar pela Rede, filiou-se ao PSB e entrou como vice na chapa de Eduardo Campos.  Veio a tragédia, Marina herdou a candidatura e despontou nas pesquisas.

Fora do eixo PT-PSDB, Marina atraiu simpatizantes da oposição que deixaram de votar em Aécio para embarcar na candidatura do PSB. Também atraiu um eleitorado jovem de classe média que rejeita as principais forças políticas do país e vê em Marina uma esperança de renovação, uma "nova política".

O PT, queimado pela oposição que sofre de setores da mídia e pelos protestos de junho de 2013, resolveu partir pro ataque. A mudança do programa de Marina em relação ao casamento gay fez o PT colar em Marina o rótulo de "contraditória" que muda de opinião sob pressão. A presença de Neca Setúbal, educadora filha do falecido banqueiro e ex-prefeito de São Paulo Olavo Setúbal, na campanha de Marina também foi atacada por militantes petistas. Fez colar nela o rótulo de "candidata do Itaú", uma candidata que interessa só aos bancos.

Marina reagiu usando o emocional: diz que a campanha de Dilma faz "covardia" e que, como candidata, jamais agrediria uma mulher - no caso, Dilma. Marina tenta se descolar dos ataques e, de quebra, vender a "nova política" que norteia sua campanha.

A troca de farpas tem endereço certo: o segundo turno entre as duas candidatas. Em outubro, a troca de farpas vai se intensificar de forma absurda. O embate de 2014 promete ser mais polêmico - e emocionante - do que o segundo turno de 2010 em que Serra ganhou a simpatia dos mais conservadores e levou a eleição ao segundo turno.

Ao PSDB, cabe fazer sua escolha de Sofia: apoiar Marina e mendigar cargos num governo da Rede ou liberar o voto do partido e tentar sobreviver como força política para lançar uma candidatura mais competitiva em 2018. Por agora, está descartada a possibilidade de vitória.

Será que teremos mais quatro anos de Dilma ou o tabuleiro político brasileiro nos reserva uma surpresa chamada Marina Silva? Reeleita, Dilma vai mexer no modelo de desenvolvimento "progressista pero no mucho"? Eleita, Marina vai saber lidar com as questões essenciais do país de maneira firme e corajosa?

O segundo turno entre Dilma e Marina promete fortes emoções. E a batalha final entre as duas já começou.