Escola musical #2 - We are ever, ever, ever getting back to bubblegum

quinta-feira, 31 de julho de 2014

Escola musical #2 - We are ever, ever, ever getting back to bubblegum



Quando do lançamento de seu álbum "Red", a cantora americana Taylor Swift resolveu sair da mesmice que estava tomando conta de sua música e radicalizou. Seu primeiro álbum, homônimo, era totalmente country. Seguiram-se dois álbuns em que Taylor caprichou nas referências ao pop (country-pop), o que a fez sair das limitações nacionais e chegar ao estrelato mundial. Contudo, em "Red", Taylor decidiu experimentar um estilo novo. Faixas como "We Are Never Ever Getting Back Together" e "22" saíram totalmente do country e assumiram uma personalidade mais pop.



Talvez ela não faça ideia, mas sua guinada ao pop repetiu um fenômeno que começou em meados dos anos 60, assumiu formas revolucionárias nos anos 80 e chegou aos dias de hoje como principal fenômeno musical das adolescentes de classe média: Taylor se tornou uma artista de bubblegum pop!

O bubblegum pop é um estilo que tem tido uma de suas maiores altas. Além de Taylor, artistas como Demi Lovato, Carly Rae Jepsen, Katy Perry e One Direction têm dado ao estilo um status de coisa moderna. O bubblegum pop, contudo, é tão velho quanto o The Who! E na aula de hoje vamos conhecer mais a fundo essa longa história.

Mas que raios é bubblegum pop, professor?

Definir o bubblegum pop é algo bem difícil. Ao pé da letra significa "pop chiclete", mas isso não é suficiente para definir o estilo. Uma definição tida como padrão é que o bubblegum é um estilo de música pop que soa grudento. Dentro dessa definição, podemos classificar o Psy como bubblegum.



Mas se essa definição está errada, qual é a verdadeira definição de bubblegum pop? Para entender melhor o que é o bubblegum, vamos voltar ao longínquo ano de 1967, em que o estilo começou a aparecer como possibilidade real.

É como chiclete!
Surgido em meados dos anos 60, o bubblegum pop, também conhecido como bubblegum rock (isso mesmo, rock), surgiu com influencias que vão do rock dos Beatles até cantigas de roda! Um grupo muito influenciado pelo bubblegum foi ninguém menos que o Jackson 5. O grupo jogava referências do bubblegum em músicas cheias de soul.



Os produtores Jerry Kasenetz e Jeff Katz são apontados como os criadores desse gênero. Foram eles que identificaram o publico-alvo do estilo, composto por adolescentes, pré-adolescentes e "crianças jovens". A um certo momento, um deles disse: - Ah, isso é como música chiclete! (Ah, this is like bubblegum music) E assim foi.



Kassenetz e Katz produziram artistas como Shadows of Knight e The Music Explosion.





Repararam em algumas semelhanças com o The Who? Pois é, o power pop, estilo que a banda fazia, influenciou e foi influenciado pelo bubblegum.

Com base em tudo que aprendemos até agora, podemos fazer uma definição assim:

bubblegum pop (s.m.): estilo de musica pop com melodias simples e voltado a um público extremamente jovem.

É uma definição bastante básica, mas é a mais correta possível. O bubblegum é um estilo com o qual pré-adolescentes sempre se identificaram. E a TV sempre soube tirar um casquinha dessa relação.

Made for TV
Os artistas produzidos por Kassenetz e Katz formaram uma grande máquina de produção de bubblegum. A Buddah Records, ligada à MGM, foi a gravadora que mais produziu discos para os artistas dos dois. Entre eles o Ohio Express, cujo single "Yummy Yummy Yummy" vendeu mais de um milhão de cópias.



As bandas tinham em comum um apelo muito grande entre o público mais jovem. As músicas eram simples e grudavam nas cabeças de quem as ouvia. Não paravam de surgir bandas novas como Tommy James & The Shondells, Crazy Elephant e 1910 Fruitgum Company.







Mas não demorou muito até que a TV, sempre ela, fosse atrás do sucesso. O bubblegum se tornou o estilo musical preferido dos roteiristas de séries e animações. Foi assim que apareceram artistas como The Patridge Famile (A Família Dó-Ré-Mi) e The Archies, que cantavam "Sugar, Sugar".





A Hannah Barbera foi uma das que mais especializou em fazer bubblegum. Foi dali que nasceram Banana Splits e Josie and The Pussycats.





É isso aí amigos, o mundo não mudou tanto assim...

Declínio
O bubblegum sobreviveu nos anos 70 e até inspirou artistas de glam rock como Sweet.



São também dessa época artistas como The DeFranco Family e os próprios Jackson 5.



Mas foi a psicodelia de artistas como The Who, inspirada em partes pelo bubblegum, que realmente chegou pra ficar.



Com isso, o bubblegum tal como se conhecia nunca mais teve o mesmo impacto. A TV parou de apostar no estilo com a mesma força, os artistas do gênero já não vendiam tanto, o impacto do estilo diminuiu. Os anos 70 anunciavam experiências musicais que iam de Jimi Hendrix ao punk. Estilos mais produzidos, como o bubblegum, perdiam força. Aquela música chiclete estava condenada ao desaparecimento!

Ou será que não?

O renascimento
Em uma prova concreta de que na cultura pop nada se perde, o bubblegum voltou com tudo nos 80, onde adquiriu as características que possui hoje. Vários fatores contribuíram para isso, como o nascimento de estilos como o electro-pop (ver última aula).

A mistura de electro-pop com bubblegum seria explosiva! Permitiu ao estilo se reinventar e assumir as características que tem hoje. Mas como o bubblegum é um estilo que depende muito da imagem, e consequentemente da TV, ainda ficou faltando um passo para o estilo voltar com força total. E esse passo foi dado no sábado, dia 1º de agosto de 1981.



Seria impossível pensar em música pop hoje sem a MTV. Ao dar uma cara para a música que as pessoas ouviam, ela permitiu o surgimento de uma indústria musical preocupada tanto com a imagem quanto com o som do artista. A MTV era tão importante para indústria musical quanto um disco. O videoclipe foi uma peça-chave para o nascimento de uma nova música comercial, uma em que Madonna e Michael Jackson poderiam reinar por um longo período.

Some-se a isso as positivas experiências de estilos como o new wave e temos um cenário perfeito para moldar um novo bubblegum. Um bubblegum para garotas adolescentes de classe média.

Girls just wanna have fun
Foi a rainha do pop Madonna a primeira a caprichar nas referências ao bubblegum. Seu primeiro álbum, homônimo, fundiu o estilo com música eletrônica e acrescentou uma pegada mais dançante. Um bubblegum com pegadas de Human League e Tina Turner. O resultado foi a consolidação da primeira variante oitentista do bubblegum, o dance-pop.



Quem saberia dizer por que a Madonna é a rainha do pop? Ela a mais bonita das cantoras pop? A mais talentosa? A que canta melhor? A que dança melhor? A que atua melhor?

Claro que não! Mas ela desenvolveu algo que nenhuma cantora pop conseguiu ao longo dos últimos 30 anos: ela é totalmente mutante! Ela consegue sempre mudar para seguir na crista da onda e por isso não sai de moda.

Desde essa época não faltaram cantoras pop que buscavam se apresentar como "nova Madonna": Paula Abdul, Kylie Minogue, Gewn Stefani, Lady Gaga,.. Até agora todas ficaram só na promessa. Mas junto com Madonna apareceu outra competidora, Cyndi Lauper. O nicho aberto por Madonna atingiu um público feminino bastante jovem. Foi a ele que Cyndi passou a se dirigir cantando sobre garotas que só queriam se divertir.



Cyndi é reconhecida como a "adversária" mais difícil que Madonna já enfrentou, até por aparecer na mesma época. Só que mais do que isso, o sucesso de Cyndi complementou e aprofundou a tendência das músicas feitas para meninas adolescentes que se tornou regra no bubblegum a partir daí. Pense no seguinte: sabe a Demi Lovato? Então, ela não existiria sem a Cyndi Lauper assim como a Britney não existiria sem a Madonna. O mundo... Vocês já sabem.

Ainda na década de 80, o bubblegum conheceu artistas como Kylie Minogue e Debbie Gibson, que seguiram com maestria os ensinamentos de Madonna e Cyndi Lauper.je.





Foi um momento de enorme proliferação de cantoras pop, mas esse momento acabou nos anos 90. Madonna foi até o trip hop e foi ao dance com "Ray Of Light", Paula Abdul apareceu em caminho parecido, Cyndi Lauper sumiu, bem como outras cantoras oitentistas. Grunge, electro-pop e hip hop dominavam o mercado. Mais uma vez, a música chiclete estava condenada ao desaparecimento! Ninguém mais iria fazer hits de bubblegum outra vez.

Ops, eles fizeram de novo!

A nova geração pop
Apresento-lhes o teen pop, mais avançada variante de bubblegum pop da história! Segunda metade dos anos 80. É o tempo das boy bands, das Spice Girls, das princesas pop, de Sandy & Junior... Influenciados por Madonna e pelo R&B, o pop dos anos 90 foi dominado pelo bubblegum.

Tudo começou com o sucesso dos Backstreet Boys e das Spice Girls, já em meados dos anos 90. Mais uma vez estava lá a explosiva combinação de melodias marcantes, apelo visual e enorme influência entre as meninas adolescentes.





A revolução iniciada nos anos 80 encontrou a evolução do electro-pop e das máquinas de fazer música. Backstreet Boys e Spice Girls são fruto dessa evolução (sim, evolução). Os dois grupos ajudaram a moldar o cenário pop depois do grunge e não só ressuscitaram o bubblegum como indicaram o caminho pelo qual o estilo seguiria nos anos seguintes.

O sucesso dos Backstreet Boys fez surgir uma geração de boy bands com o N'sync, de Justin Timberlake.



Tempos depois, é a vez da nova geração de cantoras pop. É a hora de Christina Aguilera, de Jessica Simpson, do retorno de Kylie Minogue,.. A geração de ouro do pop "comercial" que também pegou por aqui com nossa princesa sumida Kelly Key.









E não podemos nos esquecer dela, a rainha das princesas pop, aquela que permitiu o surgimento e sucesso de todas. Inspirada no dance pop oitentista de Madonna (em quem ela deu um beijaço certo VMA) e Cyndi Lauper, trazendo para o estilo uma boa pitada de pose e sem cantar nenhuma música própria sem Auto-Tune. Lá estava ela, Britney Spears.



Britney foi a vanguarda do pop em meados dos anos 90, influenciando muito do que se fez depois. A febre adolescente que ficou sexy, que ficou problemática, que ficou sem calcinha e continua até hoje com uma enorme quantidade de fãs.











A geração do final dos anos 90 se arrastou nos anos 2000 com nomes como Ashlee Simpson e Gwen Stefani, vocalista do No Doubt.





Mas não tardou para acontecer o efeito bumerangue do bubblegum. Lembra quando a gente viu lá atrás que a TV se aproveitou imensamente do bubblegum quando ele era uma novidade lá em meados dos anos 60? E que a Hannah Barbera foi uma das que mais se especializou em produzir artistas de bubblegum? Pois é, o mundo... não mudou tanto assim.

As estrelas Disney
Até meados da década de 2000, os canais infanto-juvenis eram fortemente influenciados pelo excelente Cartoon Network e sua fórmula de reviver o pastelão dos tempos dos Looney Tunes em versões bem modernas, como O Laboratório de Dexter, Johnny Bravo, etc. A Nickelodeon trouxe a fórmula para o terreno dos live actions com Kenan & Kel e deu muito certo!

O Disney Channel, lançado nos EUA na década de 80 e ferrenho rival da Nickelodeon, da Viacom, não teve outra alternativa a não ser se adaptar. Pode-se dizer as animações dos tempos do Disney Club, todas elas exibidas no Disney Channel antes dele chegar no Brasil, tinham muito desse método. E assim foi com as produções que vieram depois, mais especificamente até 2006.

Não que a Disney não tenha tentado emplacar sua Lizzie McGuire, série que nos revelou Hilary Duff, ou que a Nickelodeon não tenha respondido com Zoey 101, com a irmão de Britney Spears, Jamie Lynn Spears.



Mas foi só a partir de 2006, com o estrondoso sucesso de um telefilme musical do Disney Channel chamado "High School Musical", que percebeu-se que havia demanda para o bubblegum feito a partir da TV quatro décadas após a Hannah Barbera lançar suas experiências nesse sentido.



Com uma diferença absolutamente injusta em comparação com o estúdio que nos deu Os Flintstones e a turma do Scooby Doo: a Disney é um poderoso e estrondoso conglomerado de mídia que possui canais de TV, emissoras de rádio, estúdios para produzir filmes e séries e um grupo de gravadoras. Toda a estrutura necessária para se produzir, promover e lucrar com um artista está em poder da empresa. Assustador!

Após o sucesso da trilogia HSM, a Disney lançou hit atrás de hit. "Hannah Montana" nos apresentou Miley Cyrus, maior nome do pop no momento atual; o filme "Camp Rock" nos apresentou Demi Lovato, que depois protagonizou a série "Sunny Entre Estrelas"; o grupo Jonas Brothers, que já se estabeleceu antes dessa era, teve uma boa ajuda do mesmo "Camp Rock" para virar hit em 2008; Selena Gomez já protagonizou "Os Feiticeiros de Waverly Place"; e não podemos nos esquecer dos artistas que saíram do próprio HSM, como Ashley Tisdale e Vanessa Hudgens.

O novo bubblegum nasceu inspirado em Britney Spears, foi buscar influências em Avril Lavigne e seu "punk pop" e se estabilizou com a ajuda dos canais infanto-juvenis dos EUA.

















Os primeiros artistas da Disney são os principais, mas eles seguem com suas apostas altas em "Jessie", que tem projetado Debby Ryan, e "Violetta", primeira produção teen da Disney feita na e para a América Latina. A Nickelodeon, do mesmo grupo da MTV (conglomerados de mídia + marketing), também deu uma enorme contribuição, revelando artistas como Victoria Justice, protagonista de "Victorious", e Big Time Rush, da série homônima com que a Nick e a Sony Music pretendiam emplacar sua própria boy band.







Simultaneamente à consolidação da geração Disney, Justin Bieber apareceu para o mundo.



Os anos 2010 começam com Miley no topo das estrelas Disney, Justin como um dos maiores artistas do momento e Katy Perry caprichando nas referências bubblegum em "Teenage Dream".



É esse contexto que, finalmente, consolida-se a existência do bubblegum como estilo musical.

O que tem pra hoje?
Como foi dito no começo desta aula, a proliferação de artistas de bubblegum deram ao gênero musical um status de coisa moderna, mas, como vimos na aula, o bubblegum nasceu em meados dos anos 60, morreu uma vez, voltou, esfriou, voltou, deu uma estagnada e agora é mais uma vez um dos estilos predominantes nas rádios top 40. Nós definitivamente estamos sempre, sempre e sempre voltando para o bubblegum.

Pra hoje nós temos One Direction, consolidando o retorno triunfal das boy bands ao topo junto com 5 Seconds of Summer. Temos também Carly Rae Jepsen, que estourou com "Call Me Maybe", e Taylor Swift com sua transformação radical em pop star. Miley Cyrus deu uma puxada pro R&B, mas Demi Lovato chegou ao topo das paradas com os singles de seus álbuns "Unbroken" e "Demi".











Esfriando, esquentando, esfriando de novo, esquentando mais uma vez. O bubblegum é definitivamente um estilo de momento. Um estilo que vicia molecada que nem chiclete.

***
Uau, foram sete meses que separaram as duas aulas desta escola! Mas não se preocupem caros colegas, pois dentro em breve teremos uma aula toda voltada para os videoclipes. Não deixem de usar a caixa de comentários do blog ou do Facebook para dúvidas e sugestões. Para ouvir no recreio, "Call Me Maybe".

0 comentários :

Postar um comentário