quinta-feira, 4 de abril de 2019

Só faltou eu para falar sobre a Reforma da Previdência




Fala pessoas!

Voltei para um tema específico, que, atinge a minha área de estudos (falo isso porque sou contabilista). Já que tem tanta gente que nem chega perto da área de atuação dando palpite, como diria o Kid Abelha, "por que não eu?"

Já vou falando de cara que essa é a minha opinião sobre o assunto, e não um estudo abalizado e aprofundado sobre o assunto, e mais, o meu objetivo aqui não é pormenorizar a Reforma da Previdência em si, e sim a propaganda que é feita em torno dela (sim, propaganda) como a única salvadora para a economia do Brasil. Portanto, caro leitor, NÃO TENHA O QUE EU VOU ESCREVER AQUI COMO VERDADE ABSOLUTA!!!!!!! É sério véi, se eu pegar um seguidor do nosso blog propagando o que eu falar aqui só porque eu falei, eu entro com processo, hein? Procurem outras opiniões, debatam! Me questionem nos comentários.

Eu sou sim extremamente a favor de uma Reforma na Previdência Social do Brasil, aliás, não só da Previdência, como também uma Reforma Tributária, Política e até mesmo de Licitações Públicas e na burocracia brasileira.

A Reforma da Previdência, do jeito que está, está errada. Ela está tirando benefícios de todos? Sim, até que está, no papel, mas, como diria o Telecurso 2000: "Vamos pensar um pouco". Se eu sou um cara com posses mobiliárias e imobiliárias, você acha que eu vou trabalhar até 70, 75, 80 anos? É claro que não (eu não), eu vou viver de renda até o fim da vida, consequentemente, eu paro de contribuir com o INSS, nem mesmo pagando a contribuição complementar, já que um plano de previdência privada até paga mais. E, se eu me aposentar com o mínimo permitido, eu garanto 60% da média salarial da minha vida profissional.

Calculando:

Suponha que eu tenha ganhado, durante os 20 anos necessários, R$ 5.000,00/mês, a vida toda (sindicato de merda!). Quanto eu contribuí e quanto eu posso pegar no final, e o melhor, em quanto tempo eu recupero tudo o que eu paguei para a Previdência Social durante minha vida profissional?

5000 x 20 anos x 12 meses x 11% = R$ 132.000,00

Mas, não sou só eu quem paga, meu patrão paga, 20% do total da folha de pagamento por mês, se ele não foi optante do Simples (esse é o cálculo mais simples possível). Considerando apenas o meu salário:

5000 x 20 anos x 12 meses x 20% = R$ 240.000,00

Ou seja, durante toda a minha vida profissional, a Previdência arrecadou R$ 372.000,00 sobre o meu salario. Um pouco foi eu quem pagou e a maior parte foi o meu patrão, supondo que eu esteja numa área que meu patrão não precise pagar o RAT e eu não tenha sofrido nenhum acidente de trabalho ou ficado doente durante os 20 anos de trabalho.

Beleza! Aí, ao me aposentar, eu pego 60% da minha MÉDIA SALARIAL (não da minha contribuição), mais 2% por cada ano excedente aos 20 anos necessários para a aposentadoria, como eu só contribuí por 20 anos, 60%, e como a minha média salarial é de R$ 5.000,00:

5000 x 60% = R$ 3.000,00/mês (fora o IRRF, que seria de 7,5%, ou seja, R$ 225,00)

Agora, calculando:

132000 / 3000 = 44 meses

Ou seja, em 44 meses (3 anos e 8 meses), eu recupero tudo o que eu contribuí com o INSS (se o IR não existisse).

372000 / 3000 = 124 meses

Ou seja, a Previdência me paga absolutamente tudo o que arrecadou com o meu salário em 124 meses, ou seja, em 10 anos e 4 meses. Desconsiderei o IR porque, o fato de eu não receber os R$ 3.000,00 não quer dizer que a Previdência não pagou os R$ 3.000,00. O dinheiro que sai do cofre da Previdência é R$ 3.000,00, os destinos é que são diferentes.

Se eu tiver trabalhado até os 65 anos (idade mínima proposta para o homem) o governo deveria torcer para eu morrer antes dos 70 anos, já que, a previdência iria me pagar tudo o que arrecadou com o meu salário quando eu completar 76 anos de idade.

Se, com os mesmos tempos ditos acima, a minha média salarial fosse de R$ 1.000,00, eu recuperaria tudo em 32 meses (2 anos e 8 meses), só que com uma aposentadoria de R$ 600,00, já que a proposta impõe um teto, mas não um valor mínimo para a aposentadoria. E a Previdência iria me pagar tudo o que arrecadou com o meu salário em 116 meses, ou seja, 9 anos e 8 meses, ou seja quando eu completar 75 anos de idade (1 ano a menos do que o cara que ganhava R$ 5.000,00 por mês).
Se quiserem, peçam nos comentários que eu detalho o cálculo.

Só que vem a pergunta: quem tem mais chances de chegar lá, segundo as estatísticas, o cara que ganhava R$ 5.000,00 aos 76 anos ou o que ganhava R$ 1.000,00 aos 75 anos?

Deu pra entender? Essa reforma não só não ameniza muito a discrepância entre os mais e menos afortunados, como, também, não cobre o rombo na Previdência, já que, como diria Dilma Rousseff, "o brasileiro tá vivendo demais".

Agora, chega de falar de matemática e vamos falar de marketing.

A maioria dos economistas e outros profissionais que não são da área, mas, dão pitaco, como jornalistas, "cientistas" políticos (as aspas são para alguns específicos, e não a área em geral), advogados e até publicitários e contabilistas (tipo eu), estão tratando a Reforma da Previdência como se fosse um super herói da Marvel (aí eu já não estou no meio). Como se a única salvação para a economia do Brasil fosse a aprovação dessa reforma e que o "Reforma da Previdência" seria criado para combater os super vilões da economia: o "Desigualdade" e o "Privilégios".

Eu acho isso um tratamento absurdamente leviano com relação à economia brasileira. Mesmo sendo à favor de uma Reforma da Previdência, meus estudos sobre filosofia (poucos, mas, esclarecedores) me ensinaram que nunca se deve defender uma causa, por mais justa que seja, com argumentos mentirosos ou falaciosos, pois, quando a verdade é descoberta, ninguém acredita mais na sua causa.

De fato, defender a Reforma da Previdência como o Santo Graal da economia e política do Brasil, é, no mínimo, falacioso. De fato, atrai investimentos estrangeiros e, consequentemente, pode levar num aumento do emprego, depois de muito esforço, mas, a economia brasileira possui vários outros empecilhos que, só com a Reforma da Previdência em si, não garantem o 1 real = 1 dólar.

E isso é o que vejo muitos pregando por aí afora. Uma dessas, que inclusive foi o estopim para eu escrever esse post, foi a jornalista especializada em economia, Thais Heredia, no Jornal da Cultura do dia 01/04/2019. Até mesmo ao responder a pergunta de um telespectador ela passou a impressão de que, não tem outro jeito. É a Reforma e ponto (tá certo que a pergunta do telespectador foi meio besta). Thais, se você, por um acaso ler esse post, eu não questiono seu conhecimento, só acho que precisamos pensar em algo mais.

E não é só ela, ela foi o nome que eu consegui lembrar, qualquer especialista entrevistado por telejornais diz a mesma coisa.

Então, eu faço um desafio a vocês, economistas que acreditam (ou dizem acreditar) nisso: relacionem a Reforma da Previdência com esses outros problemas que assolam a nossa economia, digam o que ela vai fazer para reverter as seguintes situações:


  • Spread Bancário elevado;
  • Desemprego - a curto prazo;
  • Falta de oferta de crédito ou da confiança dos que oferecem crédito;
  • Excesso de burocracia para abrir empresas no Brasil;
  • Excesso de burocracia para pagar e declarar impostos no Brasil;
  • Falta de mão-de-obra qualificada, mesmo com esse desemprego enorme;
  • Sonegação fiscal elevada, não só das grandes empresas, até a padaria perto da sua casa sonega imposto como se fosse uma prática comum;
  • E, o mais importante, insistência do Brasil em ser um mero exportador de commodities, sem busca por desenvolvimento tecnológico, sem busca por produzir a própria demanda além de produção de acordos internacionais que desvalorizam a produção nacional cada vez mais.

Isso porque eu não estou citando a péssima ideia que a maioria dos empresários brasileiros têm sobre o que é administrar uma empresa, acarretando na quebra das mesmas em pouco tempo.

Se vocês conseguirem apontar uma relação entre a aprovação da Reforma da Previdência e cada um dos problemas econômicos apontados, eu reconheço que a Reforma da Previdência será a única solução.

Agora, se você, leitor, me permite, vou fazer uma comparação idiota, mas, que, no fundo, até que faz sentido:

A-ham

Se a Reforma da Previdência continuar sendo propagada desse jeito, no Brasil, ela será o Brexit brasileiro. Escrevam o que eu digo (se bem que eu já estou fazendo isso, né?).

quinta-feira, 3 de janeiro de 2019

Damares e Exú


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A evangélica Damares Alves, ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos (fico constrangido só de me imaginar a explicar a existência deste cargo para um estrangeiro) jamais acreditaria fazer algo que não fosse a obra de Cristo. Mas sua última atitude definitivamente não foi de Deus...

Sim, a primeira polêmica do governo Bolsonaro se relaciona muito mais com uma figura que os evangélicos insistem em associar ao mal. E isso não é uma sacadinha para dizer que Jesus se importava com o perdão, enquanto o governo Bolsonaro quer matar bandido. Tem a ver com o fato de que Exú é o padroeiro da mídia - e por consequência, deste governo.

Em artigo que, infelizmente, não está mais disponível na Internet (mas está no cache do Google), Pai Rodney afirmou que Exú, se pudesse se apresentar, o faria assim:

“Disseram que eu era o diabo. Mario Cravo esclareceu: Não sou diabo nem santo, sou Exu! Muito prazer! Não ligue para o que dizem a meu respeito, tudo mentira! Quem pode me definir se sou a própria contradição? Nem bom nem ruim, nem quente nem frio, nem sombra nem luz! Mas não se engane, não sou meio-termo. Sou tudo e não sou nada! Ousadia é meu nome. Estou sempre pronto, pra luta ou pra farra. Experimentei o melhor da vida, e gostei! Se me disserem que é impossível, vou e faço. Se me pedir, eu dou. Se me agradecer, eu retribuo. Se me der, eu aceito. Se me negar, eu tomo. Aos meus, ensinei a rir da própria sorte, a ter esperança, a acreditar pra ver. Se a vida vai mal, sambo e esqueço. Se vai bem, sambo e festejo! Já te disse meu nome? Sou Exu! Muito prazer!”

Mais adiante, Rodney explica a função do orixá:

"Senhor dos caminhos e das encruzilhadas, mensageiro dos orixás, Exu é o dono da rua. Vale lembrar que a encruzilhada tem uma importância simbólica universal, representando o centro e o lugar de passagem entre os mundos dos homens e dos deuses. É a morada de Exu, que tem justamente a tarefa de ligar o sagrado ao profano, sendo o orixá da comunicação e o princípio dinâmico que rege a existência.

"No local em que duas ruas se cruzam, Exu recebe suas oferendas, atende e leva os pedidos dos homens aos orixás. Ele que abre os caminhos, por isso é o primeiro a ser cultuado e sem sua permissão nada acontece. As festas de rua, com muita gente, muita bebida e muita alegria, são suas preferidas. E a tradição dos terreiros de Candomblé recomenda que nenhum fiel brinque o carnaval sem prestar homenagens e reverências a Exu".

Exú não é necessariamente mau, mas é bem sacana quando quer. E sendo o truqueiro da cultura Iorubá, Exú é o grande comunicador. O padroeiro da mídia.

O papel de Exú remete ao de Hermes na mitologia grega. Foi ele quem, segundo conta Heródoto, inventou a lira a partir do casco de uma tartaruga por ele escapelada. Ao contrário da flauta de Pan, usada apenas para a arte, a lira é usada por Hermes para contar a história do mundo. Uma mídia.

De posse dela, Hermes, faminto de carne, decide roubar o gado de Apolo, deus da guerra, mais temido dos filhos de Zeus.

"Hermes, apesar de recém-nascido, conseguiu levar cinquenta animais de uma vez e conduziu-os por um caminho arenoso, porém, com uma inimaginável capacidade para não ser rastreado: o divino menino inverteu a posição de cada casco dos animais, de frente para trás, fazendo qualquer um pensar que o rebanho havia caminhado na direção oposta. Ele, ao contrário, manteve suas sandálias na direção correta e partiu com os cinquenta animais..

"(...) Assim, o deus conduziu o rebanho até o rio Alfeios, onde o alimentou e decidiu aprender a arte do fogo".

(Texto do Mitologia Grega Br)

Quando Apolo descobriu tudo e foi tirar satisfação com Hermes, este oferece sua lira em troca do rebanho inteiro. Encantado pelo som, Apolo aceita o acordo. Em vez de aniquilar o truqueiro (truque em grego é techné, raiz etimológica de técnica e tecnologia), Apolo se deixa encantar pelo show.

Comunicação é isso, ilusão e esquecimento. A 30 quadros por segundo, como disse Jean-Luc Godard. Iludido o público, abre-se o caminho para se exercer o poder.

Se alguém duvida que Exú é o padroeiro da mídia, basta um olhar mais atento sobre as últimas encruzilhadas midiáticas. Quando o "Cidade Alerta" passa horas procurando uma adolescente desaparecida, lá está Exú. Quando William Bonner lê editorial em defesa da atividade jornalística, é ele quem está lá também. Quando sua tia compartilha notícia falsa no WhatsApp, Exú até se identifica. Quando Silvio Santos assedia uma mulher ao vivo, adivinha, lá está Exú. E quando o cachorrinho morto no Carrefour de Osasco vai parar no céu em charge que viralizou no Facebook, não é porque Jesus o colocou lá...

O que nos leva de volta ao governo do fim do mundo e sua ministra. A primeira semana da era da fanfic foi de jornalistas maltratados na posse, ministério do Trabalho em vias de extinção, demarcação de terras indígenas a serviço do agronegócio (provavelmente para desmatar a Amazônia e vender soja aos chineses, pois o Brasil faz limpeza étnica com objetivos econômicos idiotas) e salário mínimo reajustado abaixo da inflação. Há ainda denúncias de invasão de gabinetes de deputados de oposição e a explicação estapafúrdia, a lá PC Farias, do tal do Queiroz sobre a movimentação atípica em sua conta.

Pois as últimas 24 horas foram de discussões rasteiras sobre o que é cor de menino e menina. Até marcas fizeram posts com o mote azul/rosa no Twitter. É uma discussão necessária, mas chama a atenção que, no meio do caos, a lira da evangélica Damares ainda nos encanta na encruzilhada midiática.

Em sua posse, Damares disse que "o estado é laico, mas esta ministra é terrivelmente cristã". Em algum lugar na encruzilhada, Exú sorri.

sábado, 6 de outubro de 2018

#ElaSim


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A menos de 5 horas da eleição, uma dúvida monstruosa entre quatro candidatos paira na minha cabeça: Haddad, alternativa mais viável de esquerda, Ciro, alternativa mais viável para vencer no segundo turno, Marina, candidata mais ficha limpa, e Boulos, que vai pra cima dos adversários com ideias progressistas. Até a hora de votar eu me decido...

Já decididos os votos em Marcio França para governador, Eduardo Suplicy e Mara Gabrilli para o senado, Lívia Lazaneo para deputada federal e Leci Brandão para deputada estadual. Mas o voto que é supostamente mais importante ainda está em aberto. E é importante pela ameaça que carrega, de eleger Jair Bolsonaro no primeiro turno.

Não vou gastar minha Internet lembrando o perigo de eleger um presidente de discurso fascista. O que já foi escrito sobre o tema basta. E eu não aguento mais escrever sobre o Brasil que eu não quero, prefiro escrever sobre aquele que eu quero. Não o Brasil de Lula ou de cima de muro. O Brasil de Marielle Franco.

É nela que eu tenho pensado nesta véspera de eleições. Porque era de gente como ela que poderia emergir uma nova política.

Se você acha isso um exagero, ou uma beatificação desnecessária, pergunte a si mesmo: independentemente de qual seja seu candidato ou sua preferência partidária, que política você gostaria que existisse no Brasil?

Ninguém vai dizer que quer uma política corrupta. Uma política distante das pessoas. Uma política em cima do muro para agradar oligarquias e o centrão. Uma política covarde. Uma política que não leva em conta a empatia. Ninguém quer uma política que se pareça com a atual. No entanto, é isso que a maioria das candidaturas de 2018 tem a oferecer.

Mas não era isso que Marielle oferecia. Ela não tinha medo de se posicionar. Pelas mulheres, pelos negros, pela periferia, pelos LGBT, pelos direitos humanos. Ela teve empatia, inclusive (e é importante ressaltar, pois a direita vive cobrando isso da esquerda) com famílias de policiais. Era corajosa. Denunciava abusos, dizia com todas as letras que não seria interrompida, se posicionava com força. E ela acreditava que o papel de uma parlamentar ia além de legislar. Atendia pessoas, encaminhava para serviços públicos, atuava junto à comunidade, participava de debates (morreu voltando de um).

Não interessa se você é de esquerda, de direita ou isentão. Você sabe que este não é o perfil de uma parlamentar da velha política. E foi esta a parlamentar que morreu com três tiros na cabeça e um no pescoço.

Leonardo Rossato escreveu em março o que segue:

"Existem pessoas que são faróis. Que, como faróis, mostram a direção a seguir. Marielle, em vida, foi uma dessas pessoas, com seu trabalho monumental, com sua energia contagiante, com sua capacidade de dar esperança a todos os que a cercavam até seu último evento. Mas em sua morte, Marielle foi maior ainda: foi como uma estrela que, ao explodir em supernova, atraiu a atenção de todos, mostrando que a única política que vale a pena é aquela que é feita pelas pessoas e para as pessoas".

Amanhã é dia de eleição e nós temos uma escolha entre a política de Marielle e a política de sempre - que possui verniz de esquerda, direita e fascismo. Que a gente possa enxergar o caminho que o farol ilumina e usar nosso voto para fazer a renovação politica que desde 2013 nós pedimos.

quinta-feira, 9 de agosto de 2018

Do hospício e da casa de repouso - o debate da Band


Ainda não decidi meu voto no primeiro turno da eleição presidencial mais insana da Nova República. O horário eleitoral ainda não começou, um candidato está com situação indefinida e o primeiro debate foi realizado nesta quinta (9) na Rede Bandeirantes - em horário outrora destinado a um reality show com Eric Jacquin.

A impressão que fica após o evento de ares tragicômicos é que estamos condenado a uma decisão entre a loucura e velhice. No primeiro time, jogam os populistas - conservadores como Daciolo e Bolsonaro, progressistas como Boulos -; no segundo, o pessoal que defende as mesmas ideias e propõe basicamente as mesmas coisas de sempre - neoliberalismo, desenvolvimentismo, "terceira via" -, com a diferença de que não vai funcionar.

Na Piauí, Marcos Nobre observou que a proposta do Centrão é a única na mesa neste momento. Se os outros candidatos não apresentarem nada de útil, é ela que será aplicada. E o debate da Band deixou evidente que a maioria anda batendo cabeça, para desespero de quem sonha com um Brasil mais justo, ético e democrático.

A seguir, as impressões do debate

Álvaro Dias: seria o botox? Ou algum analgésico, como parte do Twitter sugeriu durante o debate? O ex-governador do Paraná deixou como única impressão no debate a dificuldade na fala. Sua insistência em afirmar que tornará Sérgio Moro ministro da Justiça é até risível. A seu favor, conta a previsão do vidente Carlinhos de que será eleito.

Cabo Daciolo: tomou de Bolsonaro o lugar do tio do zap. Sugeriu uma conspiração mundial para implantar o comunismo na América Latina que deixou Ciro Gomes boquiaberto, para dizer o mínimo. Se perder (e é bem provável que isto acontecerá), tem vaga garantida como painelista de programas de auditório.

Ciro Gomes: há dois candidatos que são reconhecidamente preparados para assumir a presidência (quer dizer, contando os presos são três): Alckmin e Ciro. O primogênito dos Ferreira Gomes passou os últimos 8 anos se preparando para a eventual candidatura e, uma vez candidato, marcou por falar insistentemente do SPC como se estivesse a fazer propaganda da Crefisa. Boa notícia: não disse nada de muito comprometedor (ainda).

Deus: no fim do debate, quase todos os candidatos o agradeceram (Daciolo até pegou a Bíblia). Alguém deveria consultar São Pedro para saber quem Ele apoia.

Geraldo Alckmin: chuchu é um apelido injusto para Alckmin, pois até o chuchu pega gosto de algo quando junto da comida. Sua disposição em apoiar brutalidade policial ("quem não reagiu está vivo") tornaria dispensável uma candidatura como a de Bolsonaro, mas nem o ódio ganharia cor com seu jeito Pin-da-mon-han-ga-ba. Haja centrão pra ajudá-lo a se tornar presidente!

Guilherme Boulos: é ate engraçado ver parte da esquerda se referindo à inteligência e eloquência do autoproclamado líder do MTST enquanto ele fala groselha atrás de groselha, especialmente no que diz respeito a economia. Ao que parece, entendeu que vai perder e partiu pro ataque. Melhor assim.

Henrique Meirelles: o ministro da Fazenda não tem nada a seu favor. Faz parte de um governo impopular, seu partido viu o centrão descambar para o lado de Alckmin, não tem carisma e, quando fala, parece estar prestes a suspirar de dor. A teoria de que sua candidatura só existe para ajudar o centrão faz muito sentido.

Jair Bolsonaro: seu momento mais significativo foi nas considerações finais; Não porque estava melhor, mas porque sua postura resumiu o debate que fez. Todos achavam que ele iria fervendo aos estúdios do Morumbi, como fez nas entrevistas do Roda Viva e da Globo News. Mas ali ele estava em terreno conhecido, graças ao treinamento que obteve em programas de auditório. No meio dos políticos profissionais, se perdeu. Viu a loucura, sua única carta, lhe ser usurpada por Daciolo. Só conseguiu "mitar" contra Boulos. No meio das considerações finais, deu pra percebê-lo mais pianinho, talvez pensando onde ele foi se meter.

Lula/Haddad/whatever: Chico Barney disse no Twitter que a relação entre Gleisi Hoffmann e Lula era meio Rajneeshpuram ("Wild Wild Country", na Netflix). De fato, o PT parece estar isolado da sociedade num mundo em que apenas o grande líder leva à salvação. Com seu candidato preso e com o vice impossibilitado de representá-lo pelas regras do debate, Haddad se viu obrigado a realizar um evento tão paralelo quanto o mundo em que seu partido vive desde o impeachment da Dilma. Com a impugnação de Lula, o ex-prefeito deve ser autorizado a participar de debates, mas até aí morreu o Neves.

Marina Silva: quem lembrar de algum grande momento dela no debate ganha um perfume da Natura. Valendo!

***
O próximo debate é na RedeTV, dia 17. Muita coisa pode mudar até lá, menos minha indecisão com relação a quem votar, que seguirá até descobrir um candidato são com um projeto de país que eu possa defender. Por enquanto, só vejo loucos e velhinhos. E um presidiário.

domingo, 15 de julho de 2018

Tite, VAR e França x Croácia: três notas sobre a Copa


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Tite é, talvez, o melhor técnico brasileiro. E é, com certeza, o mais teimoso.

Desde o Corinthians, joga com Jorges Henriques. O da seleção foi Gabriel Jesus. Mantem suas convicções intactas, mesmo quando insistimos para que mude, mesmo quando as circunstâncias exigem mais criatividade.

Seu trabalho na seleção não foi ruim, pelo contrário. Do time que não ia nem se classificar ao que chegou às quartas-de-final da Copa. E saiu contra a Bélgica, que provou que o PlayStation entende mais de futebol do que nós.

Mas terá muito trabalho até 2022, no Catar, onde terá que repensar alguns de seus critérios para convocar jogadores. Que volte na próxima Copa mais preparado - e menos teimoso.

***

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VAR significa video assistant referee. É comummente chamado de árbitro de vídeo, mas trata-se  apenas de um auxiliar que aparece em momentos determinados do jogo.

Como a arbitragem do Brasileirão é muito ruim (ou ao menos esta é a sensação que fica sempre que o Corinthians é campeão de alguma edição), o VAR foi vendido como o totem que iria expiar os pecados da CBF e até da Globo.

A Copa do Mundo mostrou que, nas mãos erradas, o VAR pode ser tão ruim - ou ainda pior - quanto um árbitro mal posicionado. Se o lance do pênalti contra a Croácia hoje fosse num Corinthians x Palmeiras quantos meses a torcida derrotada iria se lembrar deste momento? Eu diria que talvez para sempre.

O erro faz parte do jogo, seja futebol, basquete ou vôlei. Não gostou? Netflix tá aí.

***



Toda Copa do Mundo temm uma seleção que decepciona e outra que surpreende. Em 2014 tivemos, respectivamente, Espanha e Argélia. Este ano a cota de decepção veio da Alemanha, eliminada na primeira fase em um grupo onde estava virtualmente classificada.

A surpresa foi a Croácia. Por mais que reconhecêssemos que o time era forte, jamais diríamos que chegaria à final.

Mas tudo conspirava pela França, em especial a boa campanha na chave mais difícil do mata-mata da Copa. Mbappé correndo como sempre. A Croácia cansada como nunca depois de três prorrogações (um jogo a mais). O melhor time da Copa indiscutivelmente foi o campeão. Por mais que a Bélgica tenha enchido mais os olhos na semifinal.

Um time memorável. Uma seleção que merecia ir longe na Copa. Premiada com o título mais importante do futebol. Quanto à Croácia, tem muito o que comemorar por chegar à sua primeira final na história. Mas nem sempre vontade é o suficiente.

***

Oficialmente, começou o período eleitoral no Brasil. Deus tenha piedade de nossas almas.

quarta-feira, 30 de maio de 2018

Só vem


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Não tem gasolina no Brasil e o caos se instalou por todo o país. O governo dialoga mal com a sociedade. Os petroleiros ameaçam sua própria greve e o Tribunal Superior do Trabalho a considera ilegal por conter "motivação política". A eleição presidencial se aproxima velozmente e a chance é muito grande de termos um escroque na presidência - tem o racista, a vacilante, o coronel, o louco, a superestimada, pode escolher à vontade.

Ninguém está feliz no Brasil de 30 de maio de 2018. E faltam apenas 15 dias para começas a Copa do Mundo da Rússia. MEU DEUS 15 DIAS PRA COPA!

Mas agora não é hora de se distrair. Será que já tem música da Copa?





FOCO! É preciso ter foco no momento em que estamos vivendo. Um momento de conflitos por todos os lados, jornalistas apanhando de manifestantes, políticos cada vez mais acuados, pedidos de intervenção militar, Salah lesionado... Certeza que algum hacker russo teve a ver com isso!

Mas como se importar com 22 homens correndo atrás de uma bola em vez de olhar para o que realmente importa? Como se apaixonar por um esporte rodeado de corrupção e alienação? De que adianta querer mudar o mundo e parar por 90 minutos sempre que tem gente num gramado verde que ganha milhões enquanto você não ganha nada?



Há um pouco de Copa do Mundo em todos nós. Não finja que você está imune. Mesmo quem detesta futebol não está. A Copa chega para todos, fãs de futebol ou de futebol americano.

Tem algum problema que não possa esperar uns 30 dias de futebol? Então só pode ser um problemão sem solução. E não adianta dizer que aliena (sua série favorita também). Depois da Copa tem eleição e só a festa pela seleção (não disse qual) não vai fazer ninguém se esquecer do que vê e ouve neste ano.

Uma vez uma amiga me disse que não ia acompanhar a Copa do Mundo, ia preferir assistir séries. Terminou falando apaixonadamente da Alemanha campeã pelo Twitter. Prepare-se que o mesmo pode acontecer a qualquer momento com você.

Entregue-se às garras desta paixão insaciável que a cada quatro anos faz a gente perder a razão mesmo sem gasolina, sem dinheiro, sem política, sem namoro.

Faltam só 15 dias pra bola rolar. Só vem Copa do Mundo, sua linda! E que o futuro nos diga que Taison é melhor que o Messi.

quinta-feira, 21 de dezembro de 2017

Uma Internet depois...




Faz 49 anos que o Google comprou o YouTube por 1,65 bilhão de dólares. Não é brincadeira: segundo este estudo, um ano real equivale a 4,4 anos na Internet. A compra se deu em outubro de 2006, o que significa que foi há 11,17 anos reais. É só fazer a conta.

Nesta época, havia tanto conteúdo original para a Internet quanto freiras humoristas.



Nenhum estava no YouTube - a própria Irmã Selma é um clipe copiado de um DVD do Terça Insana, projeto de humor no teatro criado em 2001 por Grace Gianoukas. Também é desta época o Tapa Na Pantera, um curta que contou com menos de 40 mil espectadores no cinema, mas que recebeu até agora mais de 7 milhões de visualizações na plataforma de vídeos. Muita coisa era copiada da TV e do cinema. Muita coisa era copiada de outros sites. Muita coisa era arquivo tirado de câmeras caseiras. E muita coisa era flagra de paparazzi, incluindo aquele que tirou o YouTube do ar no Brasil por um tempo.

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O conteúdo original da Internet não estava lá, ainda que fosse ali replicado e copiado. O conteúdo original da Internet estava em dezenas, não, centenas, não, milhares de sites pessoais e de pequenos grupos. Nenhum deles valia 1,65 bilhão de dólares. As grandes empresas investiam em provedores de acesso e jornalismo. E incorporavam muito do conteúdo de pequenos sites, pessoais ou de pequenos grupos.

Era a época da conexão discada, da ultravelocidade de 8 Mbps nas linhas de banda larga mais caras, do MSN, do Orkut, dos vídeos virais que eram baixados dos PCs, dos celulares de flip que navegavam em conexões lentas de WAP, do download de músicas por MP3 no LimeWire ou em algum concorrente e que ouvíamos nos celulares (os mais modernos tinham cartões de 1 GB pra salvar músicas) ou na caixinha de som do computador. O Fotolog, que se usava para compartilhar fotos, não tinha filtros e costumávamos postar nossas fotos de viagens e comidinhas por lá. E era o tempo em que ter um blog fazia algum sentido mesmo que você não fosse o Não Salvo ou algum jornalista militante famosinho.

Em torno desta Internet, surgiu uma comunidade criativa que produzia coisas que fugiam completamente de qualquer padrão comercial já estabelecido. Falávamos do que queríamos, como queríamos e quando queríamos. Em um blog, você poderia postar memes tanto quanto a sua opinião sobre algum assunto. Um vídeo de 1 milhão de visualizações (muito para a época) podia ser qualquer coisa, desde uma raridade da TV até alguma bobagem em forma de animação. Não havia nenhum compromisso com o que quer que fosse do mundo real.

De vez em quando, ele extrapolava para a mídia tradicional, em quadros de "vídeos legais da Internet" em programas de variedades, na contratação da MariMoon pela MTV, na crianção do Overdrive também pela MTV (tem muito conteúdo do Overdrive, e não da MTV aberta, que eu gostaria de encontrar por aí), no YouTube ganhando a capa da Veja antes mesmo de sua compra pelo Google, e etc.



Mas o que dava certo na Internet era o que se fazia sem pretensão alguma, sem análise de SEO, sem empresas bilionárias por trás, sem compromisso com corporações ou partidos. Era o que se fazia porque sim. E foi porque sim que a Internet se impôs como linguagem revolucionária - e como negócio do futuro, cumprindo todas as promessas que outros serviços "interativos" não cumpriram.

Isto faz 11 - ou 49 - anos.

Como vai a nossa experiência de Internet hoje?

Reduzida ao feed do Facebook, do Twitter, do Instagram, do Snapchat e do próprio YouTube, fazendo maratonas na Netflix, ouvindo músicas no Spotify em modo aleatório e conversando pelo WhatsApp num celular que armazena bem mais do que 1GB, mas ninguém usa pois tudo já está no stream ou na nuvem.

Lembra daquele conteúdo revolucionário da Internet? Então, nem os pequenos produtores querem saber dele. O YouTube divide a receita publicitária com produtores de conteúdo, que nem precisam mais de um site para divulgá-los. E todos os conteúdos cada vez mais se parecem - esquetes, stand up, pegadinhas, dicas e gente jogando videogame.

Nós nunca fomos tão passivos na Internet quanto hoje. Pequenos criadores de conteúdo trabalham de graça - ou quase - para grandes corporações que vendem nossas informações para anunciantes do mundo todo. A atenção vai cada vez mais em direção ao que aparece em nossas timelines. Deixamos de procurar conteúdo ao devastar a rede e agora os algoritmos nos dizem o que consumir. Curta e ative as notificações. Comente e compartilhe. Poste no Facebook, no YouTube, ou em qualquer outra plataforma que aglomera seus amigos. É tudo o que você pode fazer agora.

Se isso não levasse à formação de bolhas de pensamento, então a raça humana surpreenderia qualquer Freud. Mas é exatamente isso: as corporações fazem dinheiro fingindo que dão liberdade pra você se comunicar - e que você precisa delas pra tudo. Poucas pessoas procuram por notícias e entretenimento; agora, notícias e entretenimento vêm até você. Do jeito que você quer. Com a ideologia que o Facebook e o Google já sabem que você tem.

Antes, nós dávamos as cartas no que se tornaria viral; hoje, isso depende cada vez mais das corporações que ficam cada vez maiores e vorazes. Sobrevive quem descobrir como ser bem sucedido na era do algoritmo. E se o YouTube ser comprado por 1,65 bilhão de dólares foi muito para a época, hoje é dinheiro de pinga perto dos mais de 80 bilhões de valor de mercado da Netflix, uma empresa que levou o poder de curadoria da grande mídia ao século XXI (ou alguma série nos próximos 10 ou 20 ou 44 ou 88 anos vai fazer sucesso fora desta plataforma? E a mesma coisa se dará no Spotify).

A comunidade que se construiu em torno da Internet se dissolveu. E se antes nos divertíamos com Terça Insana e vídeos que achávamos garimpando a rede, hoje nos divertimos assistindo aquilo que aparece em nossas timelines como fazíamos na era jurássica da televisão: receber o conteúdo passivamente, gostar (ou não) dele, e continuar vendo.

Restaurar esta comunidade não é impossível, mas exigiria sair do Facebook como primeiro passo. E eu não sei se algum dia alguém vai se dispor a fazer isso. Talvez daqui a mais 11 anos. Tudo bem, 49.

Em tempo: duas recomendações de textos sobre o tema:

- "A Web que temos que salvar", do blogueiro iraniano Hossein Derakhshan. Traduzido por Lara Freitas para o YouPix.

- "A destrutiva troca da busca pelo social", de Nat Eliason (em inglês).